já não abro as cortinas pela manhã
não pesquiso as lagartixas nos muros
aquecidos dos mirantes sobre as fajãs
não afago os buxos frescamente aparados
fechei a água das fontes em recantos
remansosos
vesti as roupas dos lutos habituais
os sapatos bolorentos de verniz envelhecido
calço-os
agarro um terço de vidros roxos e cruz de prata
o chapéu de tules esgarçados
uma rosa branca
alguma coragem
sigo pelos subterrâneos até
aos campos onde se lançam
os derradeiros ossos
e os vermes se acendem
as crianças saltam
brilham como duendes
atiram pétalas sobre as campas
musicam gargalhadas
roubam a luz aos ventos das maresias
regresso aos subterrâneos da minha desolação
encho de velas os terraços
onde costumava fabricar bolas de sabão
pouso no carvalho velho e esgotado
palácio dos pavões e dos lagartos voadores
que pacientemente me esperam
mfs
fiama hasse pais brandão / do muro
-
Este muro avança com a estrada,
caminha para o cume e para o vale.
Se eu parasse junto dele, dir-me-ia:
aceito e recuso o movimento,
vou e não vou por ...
Há 15 horas
2 comentários:
...regresso aos subterrâneos da minha desolação
encho de velas os terraços...
é boa a sensação como tantas e tantas vezes me revejo na tua poesia.
Beijo
Isabel
Obrigada Isabel, és uma querida :)
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