quinta-feira, outubro 26, 2006

Escrito

as mulheres transviadas olham atentamente
as unhas quebradas
suspiram intimamente por elegâncias brejeiras
espreitam as janelas da rua da frente
olham ansiosas o telemóvel sobre a cama

qualquer campainha nas portas vizinhas
as sobressaltam
passeiam impacientes sobre os tapetes puidos
falam sozinhas utilizando impropérios
agarram no casaco e saem para a selva

m.f.s.

Escrito

o meu amigo azul-escuro tem olhos cor de luar
as orelhas são obtusas
os dentes em coração

as mãos agarram colares
pescados da boca das dóceis baleias

é de água feito o meu amigo azul-escuro


m.f.s.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Escrito

porque os caminhos estão recuados no mapa
as horas não soam nos campanários
aqui estou numa paisagem sem ídolos
sem neblinas entre as árvores

mas com árvores ao menos
povoadas de véus sombreados
de ouros recolhidos nos oceanos
de hipóteses em estantes

aqui estou

não visível talvez não detectável
pelos radares dos olhos insectívoros
vogando num mar sem corpo

aqui estou (suponho)

m.f.s.