quarta-feira, outubro 31, 2007

bom dia e beijos

a sombra avança em dansantes sinuosidades
olha-nos das paredes medievais cheias de rastos
faz-nos ouvir sons pesados de passos em grupo
abre comportas de sensações nunca sentidas

terça-feira, outubro 30, 2007

Ruy Belo

PRIMEIRO POEMA DO OUTONO

Mais uma vez é preciso
reaprender o outono-
todos nós regressamos ao teu
inesgotável rosto
Emergem do asfalto aquelas
inacreditáveis crianças
e tudo incorrigivelmente principia
Já na rua se não cruzam
olhos como armas
Recebe-nos de novo o coração
E sabe deus a minha humana mão

Ruy BELO (1933-1978)
Todos os Poemas (I volume)

Herberto Helder

Pratiquei a minha arte de roseira: a fria
inclinação das rosas contra os dedos
iluminava em baixo
as palavras.
Abri-as até dentro onde era negro o coração
nas cápsulas. Das rosas fundas, da fundura nas palavras.
Transfigurei-as.
Na oficina fechada talhei a chaga meridiana
do que ficou aberto.
Escrevi a imagem que era a cicatriz de outra imagem.
A mão experimental tanstornava-se ao serviço
escrito
das vozes. O sangue rodeava o segredo. E na sessão das rosas
dedo a dedo, isto: a fresta da carne,
a morte pela boca.
- Uma frase, uma ferida, uma vida selada.

HERBERTO HELDER (1930)
Ou o Poema Contínuo

bom dia!

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Leonard Cohen Hallelujah

Nick Cave - As I Sat Sadly By Her Side

Kraftwerk - Radioactivity

Scorpions - Still Loving You

R.E.M. - Everybody Hurts

Astronomer Carl Sagan

Carl Sagan introduces the library of Alexandria

segunda-feira, outubro 29, 2007

orçamentos

hoje foi o dia dos orçamentos
obras na casa da minha filha
obras na minha casa
prevejo muitos cansaços

de casa de minha filha trouxe alguns vídeos de Tarkovski, disquettes, colares, brincos

a joana falou-me de singapura
os sogros tinham chegado
agradeceu-me as prendinhas que o não eram
o seu rosto em gesso feito quando ela tinha 8 ou 9 anos
pintado por ela
uma alentejana em cerâmica
dvds
um deles está proibido em singapura
para o mário sophia de mello breyner e ruy belo
além de alguns jornais de letras e artes
era tudo em segunda mão que o tempo não está para despesas
mas ficaram felizes
talvez a joana cá venha se conseguir vender a casa
fica no bairro alto
se alguém se interessar que me mande um mail para omarkayan@net.sapo.pt

papeis


escrito

tenho uns pulsos frágeis onde balançam pulseiras improváveis
de antigas pratas familiares tocadas por outras peles em épocas recuadas

quando tilintam vejo a luz de alvoradas pachorrentas em sítios flutuantes
como a ilha de swift

domingo, outubro 28, 2007

http://bobines.blogs.liberation.fr/




página 161

em http://www.daliteratura.blogspot.com/ e em http://www.escrita.blogspot.com/ vem o seguinte, mais ou menos: abrir um livro qualquer na pág. 161, escolher a 5.ª frase completa...
Ora bem, escolhi o livro A Culpa de Deus (para um ensaio sobre o livre arbítrio), de Rocha de Sousa, editado pela tartaruga, e encontrei isto:

- Não há maneira de castigar Deus pelos seus enganos clamorosos?

E agora?

relógio

http://www.poodwaddle.com/worldclock.swf

escrito

as luas desertificam-se às meias-noites dos
meses primeiros
antes das explosões primordiais
e eu chamo-me longamente
tristemente chamando nas alcovas esbatidas

coroo as loucas caterinettes
que desconhecia então na vida esbanjada

as pequenas gazelas sem dono espreitam
as janelas bifurcadas
espreguiçam-se em ademanes de híbridos

as invejas dos perseguidos caem nos pátios
onde se escancaram os afastamentos dos
tristonhos nadas

leio nas rochas granitadas de brilhos opalescentes
o trajecto das vidas que me cabem
ensaio o grasnido das aves fugitivas

lembro-me de ter esperado pela minha alma
escondida nas vestes das vestais imoladas

mfs

escrito

sou dos famigerados falcões a possuidora que
com eles caça as penas esvoaçantes das vítimas
eternamente vítimas
recorto com a minha garra os olhos aguçados dos
treinados predadores
para lhes incutir a certeza da visão telescópica

os meus gritos de triunfo alcançado
esborratam as paredes azuis do espaço aberto
lentamente desenham curvas
ziguezagues atormentados
por ondem descem as desconcertadas
alegorias
das fecundas deusas aladas

com o arco de diana imagino o louro dinossáurico
estarrecido do pavor da seta no calcanhar aquiliano
a fuga para a fonte onde a folha impediu a imortalidade
lanço os meus falcões cegos sobre os vencedores olímpicos
enterro a pomba nada pacífica junto às portas dos campos
consagrados nos rituais místicos dos crentes vencedores

descanso sob a asa que me sobra

mfs

escrito

no meu rosto uma sombra arroxeada

os contornos dos meus olhos desdobram-se
em múltiplas pregas de seda escassa
a cambraia desce sobre o meu sorriso
que se demora no processo de extinção
a melodia estremece sobre o papel
que se consome vagamente visível
longamente perdurável
no lado esquerdo das dextras
almas descompassadas

o meu cabelo esfria ao sol

mfs

template

faço refaço
desfaço o template...
nenhum me agrada muito tempo


hoje seguiram para singapura os pais o irmão e a respectiva mulher do marido da minha filha
ontem vieram cá buscar umas pequenas lembranças que enviei
poesia para o mário
vídeos para a joana

a joana perguntou-me mais uma vez quando volto lá
talvez no próximo ano já que parece que eles não pensam cá vir
às vezes rebento de saudades

Thiago de Mello: Os Estatutos do Homem (03)

Garibaldi Creates Bono, Live @ Empire Nightclub

Paintjam Dan Dunn

sexta-feira, outubro 26, 2007

Universidade da Beira Interior

coisas sem importância


há pequenas grandes coisas muito importantes para mim e que penso
me afastam dos outros um pouco
refiro-me às banalidades a que ninguém dá importância
como isto das minhas humildes arvorezinhas do quintaleco que olho amorosamente todos os dias
e da anoneira antes tida como abacateiro e que resolve presentear-me com um pequeno fruto
imagino o esforço da arvorezinha que dá flores há dois anos mas que só agora produziu alguma coisa
estas coisas interessam a alguém? duvido
lêem-se os blogues e que encontramos? primeiro que tudo o bota-abaixo de quem quer que esteja no poder direita esquerda centro ou nem por isso
ou
amores desencontrados, ansiados, desiludidos
choros internos
ai ais
que sou tão infeliz
que solidão em que vivo
frases plangentes até dizer chega
imagens delicodoces de meninas mais ou menos nuas
ah como sou diferente
eheheheh
sabem que mais? hoje deu-me para aqui
pronto
mas prefiro falar da sementinha que lhe deu para espigar num vaso do meu quintal e que fico ansiosamente à espera para ver que planta sai dali
ou da minha intenção, talvez não mais do que isso, de criar formigas num recipiente de vidro, como há uns tempos os miúdos faziam
é que elas não me largam a casa
ou talvez me dê para repintar alguns dos meus quadros que me irritam
ou ler
ler
ler
ou dormir
ou partir para as nuvens
que cansaço estar limitada pela gravidade
ou deixar de ser eu
construir em mim outra personagem
como se faz?
ser alegremente louca
rir com os basbaques que se escandalizam com estes dizeres
estar-se nas tintas
como se faz?
hum

ontem




escrito

os cheiros das flores enfeitadas de brumas
são como o recalcitrante pensamento em nirvanas
de brisas musicais

tomam a forma do vento para se reproduzirem
de encontro aos vidros espelhados
das casas adormecidas

os cheiros enrolam-se nas mãos das meninas
descem às fímbrias de suas saias
dançam uma valsa romântica

cavalgam as luzes das noites mortas
os cheiros


mfs

quinta-feira, outubro 25, 2007

anoneira

 

hoje de manhã para grande surpresa minha descobri esta pequena hipótese de anona na minha amada árvore que eu supunha ser um abacateiro
que maravilha
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contra-picado

 
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quarta-feira, outubro 24, 2007

flores

 

há já bastantes anos que por esta altura planto jacintos narcisos às vezes também túlipas
são flores de cores e perfumes muito agradáveis e que me alegram
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Adriano

BALADA DA ESPERANÇA

Em rosa clara te vi
rosa morta te deixei
em rosa clara
algum dia te verei

Na lua vinda te fiz
lua finda te entreguei
eras ela o que seria
saberei

Ai amor amores
tenho eu mai, de um cento
bonecas primores
cabeça de vento

Cabeça de vento
não as quero eu não
ai amor amores
do meu coração

Em noite larga te ardi
madrugada te apaguei
num retorno que te viva
te amarei

Em rosa clara te vi
rosa morta te deixei
em rosa clara
algum dia te verei

Ai amor amores
tenho eu mais de um cento
bonecas primores
cabeças de vento

Cabeças de vento
não as quero eu não
ai amor amores
do meu coração

Música e letra de José Afonso
Cantado por Adriano Correia de Oliveira





CHARAMBA

Esta é a vez primeira, a vez primeira

Que neste auditório canto,

Em nome de Deus começo, de Deus começo,

Padre, Filho, Espir'to Santo

Senhora dona de casa, dona de casa,
Folha de malva cheirosa,
Dai-me licença qu'eu cante, ai qu'eu cante,
Na vossa sala formosa

Boa noite, meus senhores, minhas senhoras, lindas flores
Que aqui estais neste salão,
Eu p'ra todos vou cantar e a todos quero saudar,
Do fundo do coração.

Eu vesti um vestido novo, vestido novo,
Para vir aqui cantar,
A charamba está no baile, ai eslá no baile,
É o meu bem e o meu par.

À vista trago quem amo, ai a quem amo,
Bem vejo quem 'stou querendo,
Defronte está quem adoro, ai quem adoro,
Quero bem a quem s'tou vendo

A auséncia tem uma filha, tem uma filha
Que se chama saudade,
Eu sustento mãe e filha, ai mãe e filha,
Bem contra a minha vontade.

Em te vendo, vejo a Deus, ai vejo a Deus,
Não sei se perco, se não,
Trago a Deus dentro do peito, ai no meu peito,
E a ti no meu coração.

Música popular dos Açores
cantada por Adriano Correia de Oliveira

desejo com asas

um dia destes vou ver o mar
talvez voe depois para as montanhas que
me decoram os sonhos
sobretudo desejo sair daqui
mais ainda sair de mim

maçadas

ontem devia ter ido a casa de minha filha com um empreiteiro para ele fazer um orçamento das obras de recuperação exigidas pela câmara
o homem não apareceu
quando falo com a arquitecta que se ocupa das obras compulsivas a fazer na minha casa
ela pergunta se os empreiteiros que cá vieram já enviaram os orçamentos
claro que não enviaram
tudo isto é tão cansativo que apetece vender a cabana e acampar

terça-feira, outubro 23, 2007

escrito

desde ontem construo miragens
nos cenários das minhas cidades flutuantes

desde ontem rasgo mapas ultrapassados
com países apagados em mares cegos

calo a palavra desfaço os ventos dos génios
incautamente saidos das lamparinas

corto o cabelo com o punhal de otelo

escavo na madeira das minhas portas fechadas
o símbolo das noites esvoaçantes ocas de ruidos

prenhes de brumas em constante mutação

avanço pelo deserto onde as aragens desenham
os caminhos dos condenados à sede insaciável
e onde se abre o sésamo dos meus tesouros

olho para trás e vejo-me em peregrinação
rumo ao primeiro tapete de folhas do meu outono


mfs

insónia

às quatro da manhã ainda estava aterrorizada por um pensamento súbito que me tomou- a minha filha nunca mais me vai ver nem eu a ela
tento racionalizar dizendo-me que não sou nenhuma medium
há anos estava ela em paris e tive de repente a sensação terrível de que ela estava doente
de facto estava
mas só o soube no seu regresso

segunda-feira, outubro 22, 2007

poema zulú

El cuerpo muere, el alma sigue joven
El alimento servido desgasta la vasija
Ningún leño conserva su corteza cuando envejece
Ningún amante está tranquilo
Mientras llora su rival.

Poema Zulú

Camille Flammarion


Navire

Camille Flammarion
Dictionnaire Encyclopédique complet
Paris
Librairie des Publications Populaires
s/ data

Padre António Vieira



Titulos para entrar no céu

V. a nota do trecho A tristeza-Definições e allegorias
Sermões, 5.º vol. 1855.

Lá no céu não se pergunta se veem dos godos,
oomo em Hespanha; ou dos Horbões, como em França;
oudos austriacos, como em Allemanha; mas se veem
ou não veem da grande tribulação. Se não veem da
grande tribulação, ainda que sejam reis ou imperado-
res, não lhes abre S. Pedro as portas do céu; mas se
veem da grande tribulação, ainda que sejam vís, ainda
que sejam escravos, ainda que sejam os mais pobres
miseraveis do mundo, ainda que se lhes não saiba
o appellido, nem o nome, todos teem as portas e en-
tradas do céu francas e abertas, porque assim o diz
a lei universal, que a todos comprehende e a ninguem
exceptua: Per multas tribulationes oportet nos intrare
in regnum Dei.


Trechos Selectos
do
Padre Antonio Vieira
Publicação commemorativa do bi-centenario da sua morte
Lisboa
Typographia Minerva Central
1897

A Escrita

Desenvolvimento dos símbolos cuneiformes desde o pictograma até ao assírio clássico
Terrina babilónica com uma inscrição mágica em hebraico quadrado (século VII a. C.)

A Escrita
David Diringer
Historia Mundi
Direcção de Glyn Daniel
Editorial Verbo

domingo, outubro 21, 2007

Reserva natural

escrito

deixa correr o
tempo
na ponta
das pistolas
cinematográficas

põe carmim na
palidez do
teu rosto

verde azulado
nas tuas
pálpebras

enegrece os
cabelos
rapidamente

salta
corre
foge

vai com a
tempestade
no meio do
furacão

ruge a fala do leão

diz thank you
ao passante

corre
foge
salta

voa
alegremente

ri
sobretudo ri

adeus andorinha
de camisa
branca
asas de punhal
azulado

gorjeia ave em seta
em pena de tule
e sarja

entra nos portões
fechados
das mansões
góticas

ganha as membranas
dos vampiros
estremunhados

guincha

assobia
faroleiro
nas brumas
das árvores
silenciosas

atira
mar vadio
as tuas rendas
orvalhadas
contra as
escarpas
fragilizadas
pelos ventos
que te enrugam
a pele

corre
foge
salta

que eu te seguirei

mfs

escrito

os círios pranteiam as preces jamais escutadas
nos labirintos dos céus deslavados
nos limbos surdos da terceira via
nos infernos gelados das mortes sem fim

os círios queimam todos os desejos
todas as dores
todas as ânsias
ironizam sobre as cabeças
vergadas ao som dos órgãos
das catedrais ocas de deuses

os círios perfumam de desalentos
os horizontes em anil
lançam fumos ondulantes
quais volúveis serpentes
deixam-se consumir ardentemente

são pagos para iludir os desalentados
os que ainda seduzem ícones esfíngicos
aqueles que se misturam nos odores
das multidões em procissão

os círios são elegantes e pálidos
ceptros hieráticos


mfs

mudar a pontuação

eu deixo
eu deixo não deixar
no abandono do desencaminhar
ao escurecer das mentes enfurecidas
pelo amor das paredes vazias
dos castelos em espanha
com picasso ao fundo
e goya
na preguiça da benfazeja surdez
e a amante
de mantilha sobre o corpo
prestes a desnudar-se
sobre a chaise-longue
de jade translúcido
saturno no seu repasto infanticida
amarelo e vermelho
de fogos-fátuos
de zoombies haitianos




vou para aqui
venho de cá
seguirei para trás
envio-te uma rajada de borboletas
hoje estou num intervalo
numa eminência
numa falésia de açúcar mascavado
desejo abrir a boca das conformidades
esconder a cabeleira judia
chorar no muro de jerusalém
desconfiar dos mortos adormecidos
erradicar as excelências
empardecer os ocasos
regar as nuvens
olhar de pálpebras cerradas
ver aparições marianas
e extra-lunares

esmaecer
desaparecer
nas muralhas de jericó
subir as colunas de hércules
comandar o colosso de rhodes
abarcar as extensões capilares
fazer estremecer a atlântida dos meus sonhos
mergulhar no triângulo das bermudas
seguir a linha do infinito
amanhecer

onde estou eu?

não te deixes calcar por críticas descabidas
ama a verdade
abomina as más intenções
sê bondoso/a
ainda não há prémios nobel para a bondade
mas há a tua atenção a essa maravilhosa e rara qualidade
afasta da tua vida a maldade
qualquer maldade
ama a verdade
ama a verdade
e a bondade

ver


ver o que não é lindinho
mas pode ser belo

ver


ver o que não interessa

gravura


1ª fase

2ª fase

3ª fase
experiências

automaticamente

a água corre no meu sangue incolor como uma ribeira entre vegetações de frescura e pureza de leveza e celestial verdade de ares azuis e brancos como as asas das crianças
os homens encolhem os olhares dantes estendidos sobre os promontórios regem as orquestras dos ventos solares
as areias dos planetas ausentes dançam valsas danubianas sobre os meus cabelos

não gosto

não gosto de juízos apressados
não gosto de manipulações
não gosto de insinuações

sexta-feira, outubro 19, 2007

pickles

o gosto pelos pickles estará inscrito no ADN?
o meu pai gostava de pickles e eu também gosto

fui a três restaurantes perto de casa
todos cheios
o 4º tinha lugares
queria salsichas com couve lombarda
com o colesterol estabilizado apetecia-me provocá-lo e comer
o indevido há muito ausente da minha mesa
não havia
sem paciência escolhi meia de churrasco
devia ser de ontem, morno como estava e seco
a salada foi visitada por um insecto negro zunidor
não a comi
nem o arroz

comi os pickles

vozes

os actores de algumas séries televisivas e de alguns filmes falam com voz forçadamente baixa
falsamente misteriosa vítima de um estilo descoberto não sei por quem
muitas vezes em ambientes obscuros e escuros feitos em cenários universais cujos pormenores não permitem dar-lhes uma entidade geográfica
às vezes os lixos as madeiras arruinadas as paredes grafitadas sugerem degradações periféricas muitas vezes inconscientemente associadas a nova iorque
antro de criminosos e vítimas nem sempre inocentes ou a qualquer cidade americana de libertinagens e fantasias sádicas

vou

vou agora desarrumar a mente
roubar escuridões às línguas pressentidas nas cavernas de platões amantes de adolescentes efebos envaidecidos nos vasos gregos de então outra era eu que não sou ainda e jamais deixarei de ser

eu vou

eu deixo

eu deixo não deixar no abandono do desencaminhar ao escurecer das mentes enfurecidas pelo amor das paredes vazias dos castelos em espanha com picasso ao fundo e goya na preguiça da benfazeja surdez e a amante de mantilha sobre o corpo prestes a desnudar-se sobre a chaise-longue de jade translúcido saturno no seu repasto infanticida amarelo e vermelho de fogos-fátuos de zoombies haitianos

automaticamente ao acordar

a beleza é um facto forjado na cabeça de um velho proxeneta que se entretem a arrepelar os cabelos ainda restantes e chama pelos insectos arredados das nossas convivências ancestrais nos mundos que não sabemos e desenhamos no corpo enquanto os lobos se rendem ao barulho das andorinhas casadoiras nos telhados embrutecidos das casas tecidas nos horizontes das mentes despertas dos bebés recem-criados pelas mães-mães entretidas a contar os bagos de arroz basmati

ainsi soit-il
de manhã
vejo de manhã
imagino a manhã
lavo as manhãs dos rostos
lavo os rostos da manhã
pressagio os vulcões expulsos das entranhas
das peles confrangidas
escolho botões de perfumes assassinos
vou à vida
que a morte nunca mais chega
ainda ontem me vi
na montra de um navio
afundou-se a alegoria
renasço em pedaços de sol matinal
arranco o vento restante
penduro resmas de cebolas
nas chaminés terrificantes
deito fora as contas de e-mail

escrevinhar adormecimentos

vou para aqui venho de cá seguirei para trás envio-te uma rajada de borboletas hoje
estou num intervalo numa eminência numa falésia de açúcar mascavado desejo abrir a boca das conformidades esconder a cabeleira judia chorar no muro de jerusalém desconfiar dos mortos adormecidos erradicar as excelências empardecer os ocasos regar as nuvens olhar de pálpebras cerradas ver aparições marianas e extra-lunares
esmaecer desaparecer nas muralhas de jericó subir as colunas de hércules comandar o colosso de rhodes abarcar as extensões capilares fazer estremecer a atlântida dos meus sonhos mergulhar no triângulo das bermudas seguir a linha do infinito amanhecer

rosário

azul plano
azul pleno
branco inédito
verde imenso
negro de abelha
fuliginoso além
cumplicidades
orgulho moscovita
tchaikovski enamorado
o espelho em pedaços
a noite estilhaçada
cartas abertas
figos escuros
maçãs depenadas
sorrisos desdentados
na lua
um dia
morri ontem

quinta-feira, outubro 18, 2007

escrito

durante dias não vi o sol nem os candeeiros das paisagens
nem as pequenas luzes dos colares cósmicos
não vi nenhuma réstea de pó cintilante
nenhuma fresta escondida na escuridão das manhãs
desisti de acender as lâmpadas dos sótãos e das caves
as lanternas dos vestíbulos sem carpetes
as velas das igrejas há muito abandonadas pelos deuses
os olhos dos gatos atentos aos solavancos dos percalços
os fogos fátuos dos campos antigamente sagrados

vivo no veludo das trevas onde permanecerei até à alvorada

mfs

Pôr-do-sol

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Ontem

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quarta-feira, outubro 17, 2007

Falésias

As falésias esboroam-se no mar algarvio, pelo menos aqui
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No Algarve


O limoeiro está com flor e com limões, feliz com alguma chuva que caíu há uns tempos atrás
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terça-feira, outubro 16, 2007

Fim de semana


Fim de semana algarvio, em casa de uma amiga. Passeios pelas praias, observando os activos frequentadores. E o "menino guerreiro"


sexta-feira, outubro 12, 2007

escrito

sobre a calçada humedecida coloquei um ramo
de camélias
despejei um frasco de saintlaurent à minha porta
enfeitei a relva com gorgeios de pássaros cor-de-rosa

nas janelas coloquei as velas que não me deste
despejei a neve carbónica no abeto ao fundo do quintal
acendi lâmpadas no corrimão da escada exterior
espalhei sobre os sofás coroas de núbeis flores

disfarcei o alçapão onde deverias mergulhar
com veludos cetins e jasmins gigantescos
e renitentes

pus uma peruca de cabelos de anjo
para iludir a tua perspicácia
um colar de espelhos para te confundir
uns sapatos de gata borralheira
para mos roubares e depois me procurares
pelas estradas sobre as copas dos bosques

mas tu não vieste

mfs

escrito

escrevo para esquecer o que não escrevo

não deixo que a memória me submerja
nos seus socalcos deslizantes

escrevo em tintas sem cor sem espessura
por sendas desfeitas nos montes arborizados
onde cada vegetal respira as minhas miragens

desenho para ser eu numa prancha de BD

pinto para desvendar o escondido nas fráguas
dos mundos desnudados em cada milénio

leio

leio os infindáveis poemas malditos dos poetas
por nascer nas concavidades marítimas
das baías rangentes e inóspitas
tritões mascarados nas venezas submersas

retiro de mim o sangue do pensamento incompleto
com ele esboço uma vida ainda inédita
no painel imenso do tempo por haver

mfs

quinta-feira, outubro 11, 2007

páscoas da infância



perplexos os estomacados andarilhos em suas peregrinações
recolhem dos ventos passantes as inevitáveis tempestades
ornadas de espumas ventiladoras como mães cautelosas
no pressentimento das noites sem deus que se aproximam
beijam os anéis dos bispos carmezins em seus palanques
entornam nos pés dos pobres as águas de páscoas comemorativas
acarinham as fímbrias das roxas roupagens das virgens dolorosas

choram a morte do salvador que a si próprio ressuscita euforicamente
passados os dois fatais dias e noites de melancólicas trevas
dando lugar às aleluias acompanhadas de rajadas de giestas
lançamentos do coro das igrejas de brancas pombas assustadas
vozes em uníssono trepidantes de alegria na certeza da salvação
que chega no corpo do ungido desprendido da natureza mortal

hossanas
aleluias
nos céus
e nas terras

mfs

quarta-feira, outubro 10, 2007

escrito

as sombras de deus nublam os olhos das libélulas
nos seus voos de disco voador
as asas estremecem quando afagam as barbas do senhor
plasmadas nos atraentes ícones das heréticas mensagens
talvez idólatras

e entretanto o meu coração é um lago onde mergulham as nuvens
em sintonia com o copo de água que à minha frente se bamboleia
repelido pelas vozes espirituais subterrâneas e resvalantes

reconheço as alegrias dos menestreis que cantam sob a minha janela
de julieta em busca de ninharias românticas balofas mortíferas
e o melhor que faço é esvaziar os futuros copos de água embalsamada
nos túmulos cristãos soterrados sob a linha das anémonas por florir

à espera das pétalas hipnotisantas que me coroarão a fronte envelhecida

mfs

escrito



pode um dia acontecer a ternura nos olhos azuis fitos nos reflexos
das congéneres borboletas tropicais

ectoplásticas e brumosas
de escritórios soturnos e terrificantes
fugitivas

pode um dia uma boca de serafim endoidecido lançar as chamas
dos fins de ano comemorados em chuvas de champanhes baratos
nas praças mundiais onde os crimes proliferam
juntamente com as neves de natais passados à beira das
faldas de montanhas em papier maché

pode ser que tudo se desmorone sobre as costas de quasimodo

as estátuas poderão governar os países abandonados
colapsar os caminhos entre galáxias esquecidas de rodar em espiral
imobilizar o tempo sorrateiro e complacente amarfanhador
das mais sedosas peles de tigres remanescentes entre canaviais

só eu não posso sair da conjuntura nada económica
em que plantei a cadeira onde me sento

mfs

escrito

voluptuosas arquitecturas sobre os rios
em negras estruturas se destacam
como grandes aranhiços de ferro envelhecido
donde caem as gotas verruminosas
das invejas e dos desesperos alheios

as lâmpadas balançam nos candelabros
espalhados pelas planícies agoirentas
iluminam as suas entranhas de metais feitas

desejo sair deste pesadelo que me persegue
quando finalmente o sono me toma
e me arrasta para os rios que circundam o mundo
onde vivem os capitães edulcorados
das velhas ditaduras distraidas da sorte que
as espera

lanço sprays de cores refulgentes sobre os braços
arquitetónicos que as repelem enquanto vibram
impulsionados pelas vozes do além

enfim mergulho em apneia nos líquidos incontroláveis
das correntes apressadas que em catadupa
se lançam no pachorrento mar-mãe de todas as águas

mfs

escrito

as soluções eram portas desconjuntadas nos labirintos da fome
com o fio de ariadne cortado em miraculosos pontos de luz rebarbativa
os gonzos em euforia guinchante
as fechaduras descaidas como peles envelhecidas

as soluções eram reflexos das douradas sintonias do ouro sobre azul
de antigos pensamentos raramente alardeados
recortados pelas colagens ambíguas dos seus retalhos

baniram as soluções malfadadas encolhidas em buracos nefastos
nos corredores bafientos das almas peregrinas
regaram de inflamáveis líquidos as esperanças destroçadas
espalharam as cinzas refrigeradas sobre os montes das luas circundantes

felizmente

mfs
 
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terça-feira, outubro 09, 2007


os corredores por onde divagam as petúnias
as narcejas as cotovias os caranguejos e os pombos cinzentos
enchem-se de romãzeiras alecrins trevos de quatro folhas
maningâncias e tropelias escancaradas nos postigos
nos nichos
nos sepulcros
os ralos das paredes empedernidas bolsam humores
como os bébés em males de soluços
deixam ouvir os gemidos das águas apertadas entre as areias

há frinchas profundas longas iluminadas por olhos de pupilas fechadas
os papagaios trepam pelas teias das aranhas enrubescidas
vestidas de cabedais translúcidos e pelos de insectos arlequins

ao longe
soa a música dos perfeitos argonautas

mfs

segunda-feira, outubro 08, 2007

escrito

já não abro as cortinas pela manhã
não pesquiso as lagartixas nos muros
aquecidos dos mirantes sobre as fajãs
não afago os buxos frescamente aparados
fechei a água das fontes em recantos
remansosos

vesti as roupas dos lutos habituais

os sapatos bolorentos de verniz envelhecido
calço-os

agarro um terço de vidros roxos e cruz de prata
o chapéu de tules esgarçados
uma rosa branca
alguma coragem

sigo pelos subterrâneos até
aos campos onde se lançam
os derradeiros ossos
e os vermes se acendem

as crianças saltam
brilham como duendes
atiram pétalas sobre as campas
musicam gargalhadas
roubam a luz aos ventos das maresias

regresso aos subterrâneos da minha desolação
encho de velas os terraços
onde costumava fabricar bolas de sabão
pouso no carvalho velho e esgotado
palácio dos pavões e dos lagartos voadores
que pacientemente me esperam

mfs

vento na luz

novos desfocados

Jacques tati. les vacances de M Hulot (restaurant)

Trailer: Mon Oncle (Jacques Tati, 1958)

domingo, outubro 07, 2007

Le Grand Corps Malade

http://www.grandcorpsmalade.com/accueil.htm

Wallace Stevens

DEPRESSION BEFORE SPRING

The cock crows
But no queen rises.

The hair of my blonde
Is dazzling,
As the spittle of cows
Threading the wind.

Ho!Ho!

But ki-ki-ri-ki
Brings no rou-cou,
No rou-cou-cou.

But no queen comes
In slipper green.

Harmónio
Wallace Stevens
Tradução e Notas de Jorge Fazenda Lourenço
Relógio d´Água

sábado, outubro 06, 2007

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D. Sancho I

Ai de mim, coitada !
Como vivo em grande cuidado
por meu amigo
que se ausenta alongado !
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda !
Ai de mim, coitada !
Como vivo em grande desejo
por meu amigo
que tarda e que não vejo !
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda !

El-rei D. Sancho I
séc. XII-XIII
 
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