quarta-feira, março 21, 2007

neve

neva regularmente sobre os
telhados de papel
rodeiam-se de águas os
campos adormecidos
as jovens pedras cantam
como nos festivais
os cucos despem os
lutos invernais

tal semelhança com as viúvas
é circunstancial

nos cabelos envelhecidos das
crianças
esgotadas
transparecem velaturas em
camadas
sobre camadas
chamam-lhes patinas
escondem os brilhos
mostram as profundidades
recriam o mistério
desaparecido estes últimos
tempos das
pantalhas publicitárias

os artistas isolam-se nos
baldios interiores
constroem iglos para os
animais
desenham ironias em
corpos expectantes

alguém tingiu o ar de
cores impossíveis
na esperança de
iludir os monstros das
circuncisões e os
seus bisturis de
cristais
envelhecidos

a neve ainda lá está
mais velha
menos límpida
ainda
perplexa

m.f.s.

1 comentário:

Anónimo disse...

Escolhi:

"os artistas isolam-se nos
baldios interiores"...