seguem-se as queixas dos
surdos mudos e quedos
contra as paredes deitados
os abandonados
apresentam
as
suas reclamações
aos chefes
atrás dos balcões
de fórmica castanha
os seguranças
lançam gestos à esquerda e
à direita
os desamparados
explicam as suas dores
às recepcionistas
de costas encurvadas
olhar distraido
voz arranhante
o sol acaba de dar à luz
alguns feixes incandescentes
levantam-se os olhares dos
suplicantes
a vozearia esquecida dos
invisíveis
não encontra eco nas
entranhas dos míseros
intermediários
as mãos páram
os olhos obscurecem-se
as bocas secam de vez
os corpos
mumificam-se
imóveis
nas salas de
espera
das reclamações
não assistidas
arrancam-se os
anéis de
latão
plástico
ouro e prata
perfumam-se as
ambiências de
pó de talco
mais um dia
na inutilidade do
tempo
m.f.s.
emanuel jorge botelho / claro/escuro
-
faço o quê com a amargura?
guardo-a no bolso,
ou ponho sobre ela o peso de um dia aziago?
talvez o mar me salve, ou me converta,
talvez a terra seja o ...
Há 9 horas
1 comentário:
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"mais um dia
na inutilidade do
tempo"
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