sexta-feira, janeiro 12, 2007

Luís Manuel Gaspar

Vou ver-te velada por uma névoa de saliva
em maio, na babugem, reconheço-te o halo,
as pernas turvas no aterro de cinza que assinala
um lábio fito, a baba que não cura,
ínsuas maceradas de pele gasta

O novelo dos veleiros que apanhavas à saída
tecendo também o molhe, as velas pandas passando ao largo
de uma praia de paredes apertadas, tábua solta
que batia no coalho, o coração

Invadiram-te, na tarde tão fria, os telhados de vidro,
a última chama fosca ateia a baba
por um sol submerso,
permite que eu corte a corda
à vela recolhida sobre os rombos

Luís Manuel Gaspar
Aguaçais
Pandora
Averno | 004

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