quarta-feira, maio 09, 2007

unicórnio

incólume estou
da saída dos touros fulvos
da morte dos arrozais
das pegadas das avestruzes

estou inocente das cores da
luz fluorescente
do choramingar dos gatos
recém-nascidos

não pertenço aos gangs
das janelas trancadas
não uso dragões a
tiracolo

os meus cabelos
brilham na aurora
gelada
dos invernos
sem luz

o meu rosto
ergue-se quando a
brisa do bater de asas
das longas cegonhas
perpassa perto de mim

e os meus olhos reconhecem
a música da ordem
celestial
nos desejos
dos vagabundos

as minhas mãos marcam a
vermelho as
costas dos
invisíveis passeantes
das vielas entornadas
nas colinas das
cidades envelhecidas

os pés que suportam este
corpo seguem
compassadamente
o trote dos cavalos
apocalípticos
ganham asas
e acompanham pégaso
nas trilhas aéreas

nos bosques escondidos
pelas fadas antigas
conduzo o unicórnio
de olhos dourados

com o meu canivete suiço
extraio-lhe o jovem coração
coloco-o no meu ventrículo
esquerdo

adormeço sob as
nuvens escurecidas
das trovoadas
iminentes

m.f.s.

2 comentários:

Anónimo disse...

Belo como sempre!

:)

Isabel

fernanda disse...

Obrigada, Isabel. Gentil, como sempre... :)