sábado, maio 19, 2007

roxo

uma flor negra como as pérolas renegadas do colo de vénus
uma flor de vidro roxo sobre o parapeito da janela aberta
uma nuvem que entra em casa e pousa sobre as alcatifas
um noitibó mudo
alguém que sai voando atrás do vento
a mulher que corre com música nos cabelos
os filhos que não conhecem mães nem pais
o casaco pendurado junto ao espelho vazio
o ar rarefeito nos pulmões atrofiados
um relógio

um relógio que se recusa a deixar o tempo esvair-se
nos seus ponteiros
o gesto do homem enfurecido contra a porta trancada
olhos muitos olhos em rostos melancólicos
estátuas que se desvelam em sorrisos pétreos
a silhueta amada no horizonte
a casa enfim desabitada
água que desce as escadas dos arranha-céus
borboletas que arrastam ventanias nas asas de filigrana

o sol que se apaga vestido de vermelho

m.f.s.

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