uma flor negra como as pérolas renegadas do colo de vénus
uma flor de vidro roxo sobre o parapeito da janela aberta
uma nuvem que entra em casa e pousa sobre as alcatifas
um noitibó mudo
alguém que sai voando atrás do vento
a mulher que corre com música nos cabelos
os filhos que não conhecem mães nem pais
o casaco pendurado junto ao espelho vazio
o ar rarefeito nos pulmões atrofiados
um relógio
um relógio que se recusa a deixar o tempo esvair-se
nos seus ponteiros
o gesto do homem enfurecido contra a porta trancada
olhos muitos olhos em rostos melancólicos
estátuas que se desvelam em sorrisos pétreos
a silhueta amada no horizonte
a casa enfim desabitada
água que desce as escadas dos arranha-céus
borboletas que arrastam ventanias nas asas de filigrana
o sol que se apaga vestido de vermelho
m.f.s.
miguel torga / flor da liberdade
-
Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós… Também nós… E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes,
Liberdade!
Liberdade...
Há 4 horas
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