segunda-feira, maio 21, 2007

em casa

ainda estou no meu tugúrio de vento no quintaleco
só devo regressar ao algarve em princípios de junho se tudo correr bem
entretanto vou pintando e alinhando palavras
não tenho feito passeios matinais e isso faz-me falta

aqui deixo o que escrevi há minutos

eram silenciosas as filhas escravas
as filhas que se despenhavam todas as noites
morriam devagar em leitos de águas calmas
de amores morriam
de desespero
de solidão nos seus corações
de génios incompreendidos
na fatalidade do sexo que lhes coube

oh madrugada de sacrilégios
manhã de redenções prometidas
nas aldeias abandonadas dos países vazios
oh ofélias oh virgínias
oh almas em transes permanentes
olhos repletos de visões infernais

oh mulheres malfadadas objectos utilitários
mulheres de almas enfraquecidas pela sujeição
fixai-vos no teatro das andorinhas casamenteiras
beijai os filhos que não tivestes
dizei ao homem aqui estou
como tu
meu companheiro
meu igual
meu frágil amante

m.f.s.

1 comentário:

Anónimo disse...

"como tu
meu companheiro
meu igual
meu frágil amante"

Assim deveria ser sempre...