segunda-feira, dezembro 04, 2006

Escrito

eu sou aquela rapariga morta
numa tarde de abril
de sois rebentando em sonoras luzes

de gotas transparentes em bailados de vento

sou aquela mulher assassinada pela espada
de uma dor sem fim

aquela criança de olhos baços
em silêncio atónito
sou eu

aquele homem torturado por pensar
quase sem rosto
é a minha imagem

tenho a alma à mostra como
uma asa que se desdobra antes do voo
e nela se esgotam todas as brisas

num gesto alargo a comunhão
aos que se desconhecem
aos que não sabem de ninguém
àqueles cujo amor fenece à nascença
aos invisíveis

a todos os que não deslocam o ar
na sua passagem
não atraem o olhar dos imaginários deuses
não sabem que são irrepetíveis

aos que ignoram a indescritível beleza
que possuem
e pela qual são possuídos
aos que se julgam mortos
sob qualquer céu do universo

eu sou todos eles

m.f.s.


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