o centauro quer regressar às nuvens,
aos braços de sua mãe Nefele
as últimas memórias que tem do paraíso
estão embrulhadas em cheiro da mãe
em carinho da mãe quando lhe limpava os cascos
desembaraçaava a crespa cabeleira
punha a luzir o pelo raso
alisava a cauda longa e irrequieta
o centauro procura na sua ninfa os odores da infância
e quando atrás dela corre pelos bosques
espera o milagre da transformação
da ágil silhueta num corpo maternal descido do seu reino
para o salvar de si próprio
a ninfa deleita-se com a sua própria imagem de leveza
virgem pagã em correrias alegres nos bosques humedecidos
e foge
foge do centauro
que não desiste
e sobre as árvores lança a tempestade
relâmpagos que racham os verdes
trovões que ecoam na chuva apressada e densa
rugidos de animal em fúria
esquecido da sua humana metade
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
-
Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 20 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário