segunda-feira, dezembro 04, 2006

Escrito

corriam pelos campos encharcados
pelas chuvas de inverno mal dormidas
assistiam ao nascer das andorinhas
em ninhos

e pela invernia bolorenta
não doi para cima nem pra baixo
o gemer da nora ferrugenta
a água sonha em altos gritos
a liberdade presa
na placenta

e as noites que corriam desenfreadas
atrás dos pesadelos imanentes
sentiam o cair dos corpos lentos

encurtavam as asas depenadas
com navalhas de aço incadescente
baixavam os rostos de cristal
desenhavam sorrisos inocentes

sorriam de manhã até à noite
com pipilares de anjos feridos
tinham os cabelos mui compridos
feitos de cabedal para o açoite

eram como amigos desunidos
em praias de ágil rebentação
com amargor tocavam o coração
dos pássaros em voos estarrecidos

precisavam de longas agonias
nos leitos de ferro engalanado
fechavam os olhos às tropelias
mordiam um dedo escangalhado

m.f.s.

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