corriam pelos campos encharcados
pelas chuvas de inverno mal dormidas
assistiam ao nascer das andorinhas
em ninhos
e pela invernia bolorenta
não doi para cima nem pra baixo
o gemer da nora ferrugenta
a água sonha em altos gritos
a liberdade presa
na placenta
e as noites que corriam desenfreadas
atrás dos pesadelos imanentes
sentiam o cair dos corpos lentos
encurtavam as asas depenadas
com navalhas de aço incadescente
baixavam os rostos de cristal
desenhavam sorrisos inocentes
sorriam de manhã até à noite
com pipilares de anjos feridos
tinham os cabelos mui compridos
feitos de cabedal para o açoite
eram como amigos desunidos
em praias de ágil rebentação
com amargor tocavam o coração
dos pássaros em voos estarrecidos
precisavam de longas agonias
nos leitos de ferro engalanado
fechavam os olhos às tropelias
mordiam um dedo escangalhado
m.f.s.
emanuel jorge botelho / claro/escuro
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faço o quê com a amargura?
guardo-a no bolso,
ou ponho sobre ela o peso de um dia aziago?
talvez o mar me salve, ou me converta,
talvez a terra seja o ...
Há 9 horas
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