SIMPATIA EM BRANCO MAIOR
Quando atiro quatro cubos de gelo
Tilintando para um copo, e acrescento
Três doses de gin, limão em rodela,
Mais um quarto de tónica, que verto
Espumando até que afogue, jorro a jorro,
Tudo o resto, até às bordas do copo,
Ergo a bebida no silêncio de um voto:
Ele dedicou a sua vida aos outros.
Enquanto outros usavam como roupas
Os seres humanos no seu dia-a-dia
Eu empenhei-me em mostrar, a quem me cria
Capaz de o fazer, as montras perdidas;
Não resultou, com eles ou comigo,
Mas todos assim ficaram mais próximos
(Ou tal se pensou) de todo o imbróglio
Do que se o perdêssemos cada um por si.
Boa pessoa, um fulano às direitas,
Sempre na linha, um tipo impecável,
Um ás, o máximo, um gajo porreiro,
Não lhe chegavam nem aos calcanhares;
Que chata teria sido esta vida
Se ele não tivesse andado por cá;
Um brinde, que alma mais branca não há! -
Não sendo embora o branco a minha cor preferida.
Philip Larkin
INIMIGO RUMOR 15
manuel alegre / lusíada exilado
-
Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 19 horas
1 comentário:
Philip Larkin, poeta, romancista e crítico, nasceu em Conventry, Inglaterra, em 1922. Estudou literatura inglesa, foi amigo íntimo de Kingsley Amis (e padrinho de Martin Amis), amante e crítico de jazz, bibliotecário nas universidades de Leicester, Belfast e Hull.
Esteve ligado ao movimento literário inglês The Movement, que, nos anos 50, reuniu escritores como Kingsley Amis, Donald Davie ou Thom Gunn, entre outros, e que defendia uma literatura virada para a vida comum, numa linguagem simples, directa e clara. Os escritores que integravam este movimento reclamavam-se de uma baixa classe média da província, estatuto esse que opunham ao Establishment intelectual, artístico e académico da capital, das classes altas e das duas universidades com primazia histórica e influência dominante, Oxford e Cambridge.
A obra literária de Philip Larkin compõe-se, essencialmente, de dois romances – Jill (1946) e A Girl in Winter (1947) – e quatro livros de poesia: The North Ship (1945), The Less Deceived (1955), The Whitsun Weddings (1964) e High Windows (1974).
Philip Larkin continua a ser hoje, quase vinte anos passados sobre a sua morte, um poeta controverso. A sua personalidade tem suscitado as mais acesas discussões, sobretudo a partir da publicação, em 1992, dos Selected Letters, onde parece consolidar-se a imagem de um homem misógino, racista, homofóbico, nostálgico de políticas autoritárias e historicamente regressivo. Porém, a sua poesia não deixa de marcar de forma indelével a literatura inglesa do século XX, tendo hoje lugar entre os grandes poetas de língua inglesa, ao lado de T.S. Eliot, Ezra Pound ou Dylan Thomas.
(Livros Cotovia)
Além do mais, era de direita...
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