sexta-feira, novembro 24, 2006

Escritos já antigos

nas melancólicas entrelinhas das conversas inaudíveis
cabe o universo do silêncio
nos insonoros suspiros dos heróis abandonados

sangues que secam em recipientes mortos de pavores
armazenados camada sobre camada até à última instância
lonjuras que se adivinham nos desertos imaginados

m.f.s.


há rios que nos perseguem pelas ruas pelas estradas
pelas vielas
rios insidiosos que arrastam consigo as nossas temperanças
nos deixam de coração exaurido
entre os limos das dores de viver

há rios que nos limpam os destroços das tempestades
vivenciais
que nos trilham caminhos de lama
à espera do sol do deserto
rios que nos lançam em perfumadas cataratas
junto ao mar sem sargaços

há rios como mares que inundam as terras dos nossos jardins
os sobrados das nossas casas sobranceiras às praias
de fulgentes areias
rios que não nos dão o tempo de dizer adeus
às ténues nuvens do entardecer

m.f.s.


fundou uma ilha num lago montanhoso
para finalizar o tempo da passagem
rodeou-se de nuvens
espreitou a chegada dos meteoros
e compôs uns sons a que chamou
sons

tentou descobrir o padrão da formação das ondas
junto ao pequeno cais do seu exílio
e concluiu que era misterioso
o padrão comportava-se como
um alienígena destroçado pela lonjura do lar

deixou que o olhar se fechasse nas divagações outonais
e a poalha das flores ainda inexistentes
encheu-lhe o corpo de véus perfumados

m.f.s.

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