terça-feira, novembro 28, 2006

2005

artefactos luzidios no campo de malmequeres
transportam consigo o tigre sem dono
o magnífico animal que nos fita expectante

caminhando para nós vem
silencioso

m.f.s.


os que dormem devem acordar quando a mulher lavar os vidros
das gaiolas

devem os filhos lavar as mãos para tratar das aves

deve o marido lavar os recipientes da comida e da água

devem as aves permitir que tratem delas sem fugir de suas prisões

e cantar

não devem as aves agitar-se quando as gaiolas são postas na varanda

devem as crianças animar as aves tocando xilofone e harmónicas

deve a mãe recolher as gaiolas ao entardecer assegurando-se de que as aves
estão satisfeitas

devem as aves mostrar a sua gratidão por tanto desvelo
desistindo de tentar escapar-se para o mudo terrível

lá fora

m.f.s.


quero naufragar à entrada do porto de abrigo
quando as ondas invadirem as estradas em tsunami enraivecido
e o meu corpo se deixar embalar na sua fatal canção

quero dar à costa no dorso de um manso tritão
vestida de algas e corais do mar vermelho
quero ter o cabelo das mortíferas sereias de Ulisses

quero dormir numa nuvem mergulhada no mar oceano

m.f.s.

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