quarta-feira, junho 13, 2007

yeh

havia uma porta
que se escondia
atrás de uma janela
atrás de uma porta
por detrás de uma
janela

havia um rosto
que se deitava
num travesseiro
numa cama com
outro rosto
deitado no
travesseiro

havia um espelho
que se esvaziava
todas as noites
e se enchia todas
as manhãs

havia uma voz
que cantava um blue
e uma grafonola
que tocava uma ária
numa sala deserta
num deserto sem salas

e um golfinho
que golfinhava
numa piscina
perto de si

um rei que não reinava
só jogava à bola
cuspia pro lado
dizia poesias
e enganava-se
sempre

havia um programa
que se deixava
patrocinar
por um gang de
mulheres mortas
nas ruas de ninive

uma mulher que se
desengonçava
ao som de um mozart
num palco de yeh-yeh
e afinal

era um homem

havia uma rocha
que resvalava
por um rosto de
algodão
e ria às
gargalhadas

havia outra mulher
que compulsivamente
escrevia estranhezas
e olhava a televisão
em que imagens e palavras
lhe faziam doer os olhos

em que os sons de tiros
carros em derrapagem
mafiosos elegantes
raparigas à venda
a empurravam
para escrever horrores

mais surrealistas
que as tripas
ensanguentadas
das séries americanas

m.f.s.

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