havia uma porta
que se escondia
atrás de uma janela
atrás de uma porta
por detrás de uma
janela
havia um rosto
que se deitava
num travesseiro
numa cama com
outro rosto
deitado no
travesseiro
havia um espelho
que se esvaziava
todas as noites
e se enchia todas
as manhãs
havia uma voz
que cantava um blue
e uma grafonola
que tocava uma ária
numa sala deserta
num deserto sem salas
e um golfinho
que golfinhava
numa piscina
perto de si
um rei que não reinava
só jogava à bola
cuspia pro lado
dizia poesias
e enganava-se
sempre
havia um programa
que se deixava
patrocinar
por um gang de
mulheres mortas
nas ruas de ninive
uma mulher que se
desengonçava
ao som de um mozart
num palco de yeh-yeh
e afinal
era um homem
havia uma rocha
que resvalava
por um rosto de
algodão
e ria às
gargalhadas
havia outra mulher
que compulsivamente
escrevia estranhezas
e olhava a televisão
em que imagens e palavras
lhe faziam doer os olhos
em que os sons de tiros
carros em derrapagem
mafiosos elegantes
raparigas à venda
a empurravam
para escrever horrores
mais surrealistas
que as tripas
ensanguentadas
das séries americanas
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
-
Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
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Há 20 horas
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