já só resta uma silhueta
alguns farrapos de histórias
fios de vidas sem passado
as veredas dos campos
enchem-se de ectoplasmas
azulados
uma ou outra flor enegrece as corolas
as sombras desfazem-se em fumos
não se ouvem os relâmpagos
m.f.s.
se tens memória sabes que há outras paisagens
noutros espaços
sabes que se perdeu a inocência nos gemidos
dos anjos expulsos
lembrar-te-ás de outras cores nas silhuetas
contra os vidros estilhaçados
das fábricas abandonadas
não perseguirás sombras que sabes perdidas
para sempre
no gume das facas ponteagudas
não quererás guardar memórias arrefecidas
nos gelos dos planetas que te povoam
o universo pessoal
e intransmissÃvel
m.f.s.
partirás também tu partirás
fugirás pelo canto do olho
sem deixar sombra
outros ares te limparão os olhos
as searas já estarão secas
quando por elas passares
tu partirás invisÃvel
como um suspiro
silencioso
como um harpejo
m.f.s.
serei um dia a pedra precária na falésia
formada na fúria dos ventos marinhos
nos estremeções da terra inquieta
serei grão de areia nos grãos de areia dos oceanos
gelo no granizo extemporâneo sobre as aldeias do interior
talvez vento cantante sobre as cabeças das
crianças assustadas
serei um fio de cabelo que desenha grafismos
sobre os papeis das secretárias
uma folha acabada de cair em pleno verão
serei o indizÃvel presságio no coração
dos loucos de belos olhos garras nas mãos
facas nos dentes de vampiros
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
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Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
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Há 23 horas
1 comentário:
muito bom
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