não sabemos que vertigens nos esperam
atrás das portas fechadas das casas encantadas
sabemos que as imagens dansam como violentos
vendavais
a excelência das transparências nas
janelas dos arranha-céus
o reflexo das luzes dos néons
publicitários
os mundos pressentidos nas ruas
vielas
becos
auto-estradas
sem vigilância
isso sabemos
m.f.s.
de que sorriem as noites claras de janeiro
de cintilante frio nos céus de lua plena
de que se queixam as noites de agosto
rasgadas pelas trajectórias
de suicidas meteoritos
de que nos lembramos quando olhamos
as nossas veias
m.f.s.
correm os cavaleiros pelas estepes
levam a tiracolo os corações roubados
em noites de trovas e fingimento
exibem nas suas armaduras os cabelos cortados
às damas que por eles se diluiram
em lágrimas tépidas
inúteis
sem retorno
m.f.s.
longas caminhadas nos esperam
longe do útero materno
à saida dos corredores abismais
onde a nossa alma permanece
todavia
não se levantam as gaivotas à nossa passagem
fugaz caminhar sem sombra sem cor
sem luz
sem eco
sem sandálias percorremos a Via �pia
não podemos perguntar "Quo vadis"
sem o dom da palavra transformada
sem o som dos clarins dos mundos
em espirais de contentamento
não há descanso na busca
m.f.s.
a realidade que nos tolhe os passos a cada manhã
que nos acorda dos onÃricos pensamentos
que nos massacra nas imagens a preto e cinzento
que nos engole como voraz Pantagruel
as sementes que germinam vertiginosamente
nos campos áridos das planÃcies do sul
as résteas de aragens perfumadas de
estrelas em implosão
os vácuos que se digladiam como touros e toureiros
na decrépita arena dos tempos em caótica dança
mãos que se prendem ao rebordo do invisÃvel
e deixam cair as luzes dos horizontes
nos abismos
a certeza que nos prende
desenhada nas páginas
vazias do infinito
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
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Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
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Há 20 horas
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