terça-feira, setembro 05, 2006

Novo bloco

não sabemos que vertigens nos esperam
atrás das portas fechadas das casas encantadas

sabemos que as imagens dansam como violentos
vendavais

a excelência das transparências nas
janelas dos arranha-céus
o reflexo das luzes dos néons
publicitários

os mundos pressentidos nas ruas
vielas
becos
auto-estradas
sem vigilância

isso sabemos


m.f.s.



de que sorriem as noites claras de janeiro
de cintilante frio nos céus de lua plena

de que se queixam as noites de agosto
rasgadas pelas trajectórias
de suicidas meteoritos

de que nos lembramos quando olhamos
as nossas veias

m.f.s.



correm os cavaleiros pelas estepes
levam a tiracolo os corações roubados
em noites de trovas e fingimento

exibem nas suas armaduras os cabelos cortados
às damas que por eles se diluiram
em lágrimas tépidas
inúteis
sem retorno

m.f.s.


longas caminhadas nos esperam
longe do útero materno
à saida dos corredores abismais
onde a nossa alma permanece
todavia

não se levantam as gaivotas à nossa passagem
fugaz caminhar sem sombra sem cor
sem luz
sem eco

sem sandálias percorremos a Via �pia
não podemos perguntar "Quo vadis"
sem o dom da palavra transformada
sem o som dos clarins dos mundos
em espirais de contentamento

não há descanso na busca


m.f.s.



a realidade que nos tolhe os passos a cada manhã
que nos acorda dos oníricos pensamentos
que nos massacra nas imagens a preto e cinzento
que nos engole como voraz Pantagruel

as sementes que germinam vertiginosamente
nos campos áridos das planícies do sul
as résteas de aragens perfumadas de
estrelas em implosão

os vácuos que se digladiam como touros e toureiros
na decrépita arena dos tempos em caótica dança
mãos que se prendem ao rebordo do invisível
e deixam cair as luzes dos horizontes
nos abismos

a certeza que nos prende
desenhada nas páginas
vazias do infinito

m.f.s.

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