segunda-feira, janeiro 07, 2008

http://f-world-blog.blogspot.com/

«A voz de João César Monteiro a falar, directamente da terra da verdade cá para baixo. Lá está ele a cavaquear com o meu pai, os dois a fumar que nem chaminés, uns parvos. Vejo-os Avenida de Roma fora, o pai com a graça muito séria, que a tinha e o outro desvairado a explicar: a menina vem comigo ver a Branca de Neve e o que não perceber pergunta-me que eu explico. A menina sou eu. Cheguei de Portugal onde comprei uma revista, passei os olhos pelos jornais, trouxe um livro de Coimbra de Matos, uma garrafa de ginginha e doces caseiros. Estava sol aí e uma espécie de calor que só agora, que aqui vivo, me parece calor. Lisboa é uma cidade belíssima e Portugal um país extraordinário cheio de aldrabões, criminosos, escritores, poetas e pessoas normais. No suplemento bla bla bla do Público, não me lembro agora do título, vinha o autor de As Benevolentes que não quer dizer, ou antes, quer dizer menos que Les Bienveillantes porque este título em francês é mais complexo, envolve a ideia de vigilância, de alguém bondoso, é certo, mas particularmente atento ao outro. No entanto, a tradução está correcta, que remédio. Se eu fosse tradutora, que também sou, traduziria um texto de Michaux de aquilo para assim: demanche na la campanha. Jarretas e jarretões se avançavam sobre a ruta de ébonário. Darvisos e Potamões fôlatravam nos campos. Uma das parmengardas, uma das Tarmósias, uma das velhas paricaridelas ramieladas e forosas se hatava para a villa. Garinetes e Farfaluvas devisavam alegremente. Se as palavras não nos servirem, servem-nos então para quê? Ainda sobre Portugal, li uma crónica da Inês Pedrosa. Nada mas realmente nada me move contra a Pedrosa, quero dizer, nada me move contra ninguém, pessoa humana alguma me dá cabo do juízo a não ser que me esteja dentro do coração e para cá chegar é trabalheira danada. O que queria dizer é que a Inês Pedrosa estava na «Caras» com o marido e dei comigo a pensar no que estava a pensar e que era em nada. Olhei e tornei a olhar: nada. Andei à procura da revista «Atlântico» mas não percebi onde se esconde ou se esgota. Tem a Atlântico? Não tem, então, olhe, é a Time Out. E descobri um fenómeno português e este é mesmo exclusivamente português: a imprensa, a televisão, a rádio e os blogs tudo está possuído pela graça de imaginar que se tem a graça natural de P. G. Wodehouse mas numa versão abrutalhada, como se fosse possível ser-se daquela fibra e também pronto a arrancar cabeças à dentada, eu sei lá. São às toneladas, pipas, por todo o lado brotam pequenos wodehouses ah ah ah ou ha ha ha que escrevem, dizem, repetem trocadilhos, dichotes, aforismos e um sem fim de larachas. Ora, nós portugueses não éramos assim armados em, Wodehouse me perdoe, carapaus de corrida hostis, markls, fedorentos, pois não? Não. Como se deu este salto para a rusticidade? Foi com o Herman, agora decadente? Como é possível ler num jornal, e este é apenas um exemplo, que António Vitorino é um vómito governamental, tal como li escrito por Cintra Torres, apenas um crítico, mero crítico em modo troglodita? De onde vem tamanha agressividade e a necessidade de a contar aos sete ventos sem patrulha interna? Não é Almada quem quer e depois de Almada é mais ou menos o deserto com Mário-Henrique Leiria aqui e ali, pessoas com pinta mas já mortas ou ainda vivas mas velhas, cansadas de tudo isto ou nas tintas para esta cegada, que pena, digo, tenho pena mas se calhar sou só eu. Resumindo, cheguei aqui meia zonza a este país de tresloucados que é a Bélgica onde flamengos flamões mais valões me parecem mansos, delicados, quase inocentes e até as ameaças terroristas são fábulas e o governo provisório uma suave anedota por todos seguida de forma bienveillante.»

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O meu blog preferido.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito obrigada.
FRD