domingo, setembro 30, 2007

escrito

às vezes nas madrugadas húmidas sem luz sem calor
apetece-me correr pelos caminhos semeados de pirilampos
saltar nas crateras lunares galgar as montanhas de marte
deixar crescer as pestanas até que saias das minhas pupilas

plantar flores carnívoras no meu jardim aquático rodar a bolha
transparente em que vivo na direcção das trevas cheias de monstros
afundar os pégasos do meu quarto secreto labiríntico e flutuante
inventar outros sossegos outros emaranhados de fios de aranha

às vezes quando vejo a minha imagem no espelho escondido no sótão
ouço o cantarolar das portas que se fecham sobre o azul nublado
sinto crescer nas minhas espáduas as asas há muito perdidas
fecho os olhos sem pestanas de pupilas inexoravelmente vazias
de mim

mfs

sábado, setembro 29, 2007

Hermann Hesse

- o lobo das estepes -


Eu, lobo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se acaso encontrasse algum,
prendia-o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava-os todos de extremo a extremo,
bebia-lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso.
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava-me com uma lebre.
É tão doce à noite o sabor da sua carne quente.
Porventura foi-me negado tudo quanto possa, um pouco.
alegrar a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que a não tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos.
ouço o vento soprar nas grandes noites de inverno.
e a minha alma dolorosa. entrego-a eu ao demónio.


Hermann Hesse
Doze Nós Numa Corda
(poemas mudados para português por Herberto Helder)

sexta-feira, setembro 28, 2007

Hélder Batista

EUA: Escultor Hélder Batista vence grande prémio de medalha

O escultor português Hélder Batista, de 75 anos, venceu o grande prémio do congresso da Federação Internacional de Medalhística, que está a decorrer nos Estados Unidos, tendo sido escolhido entre 150 artistas seleccionados.
O escultor venceu aquela que é considerada a maior distinção na arte da medalhística com a medalha comemorativa dos 50 anos da Igreja Paroquial de Santo António de Moscavide, de 2006 e cunhada em bronze.

Hélder Batista, nascido em Vendas Novas em 1932, formou-se na Casa Pia de Lisboa e na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

É autor de várias esculturas em locais públicos em Lisboa, Funchal, Oeiras e Montemor-o-Novo.

Expõe individualmente desde 1968 em Portugal e no estrangeiro.

Diário Digital / Lusa

21-09-2007 19:01:54

quinta-feira, setembro 27, 2007

quarta-feira, setembro 26, 2007

Guillaume Apollinaire

SE ME DEIXASSEM

Oh tempo oh singular caminho de um ponto a outro
Se me deixassem teria mudado rapidamente
O coração dos homens e em todo o lado haveria
apenas
Coisas belas

Em lugar de frentes vencidas em lugar de penitência
Em lugar de desespero e de orações haveria em
todo o lado
Relicários custódias e cibórios
Resplandecendo no fundo dos sonhos como essas
Divindades primitivas cuja função poética
Está quase acabada

Se me deixassem compraria
Os pássaros cativos para os libertar
Vê-los-ia com uma alegria sem mácula
Voarem sem fazerem ideia
De uma virtude chamada reconhecimento
Ou gratidão

Guillaume Apollinaire
O Século das Nuvens
versões, prefácio e notas de
Jorge de Sousa Braga
Hiena Editora

António Dacosta

Tornam aqui as aves
Sempre outras como eu
Longe de mim buscam
Outro que mim
O teu braço apontado ao céu
Semelhavas - no desabrochar
As flores o tempo que nos cercava
Não havia portas no teu jardim
Era como estar dentro do que vias
Tudo de ti estava em nós e era transparente.
Via-te o vulto voltado à luz
Que o braço erguido apontava
E no tempo que nos cercava
Semelhavas
Que o nosso olhar não via
E de longe em ti buscava
O outro que mim

António Dacosta

Arseniy Tarkovsky

Reality and light exist,
But neither death nor darkness.
All of us are on the seashore now
And I am one of those who haul in the nets
When a shoal of Immortality comes in...


From Life, Life by Arseniy Tarkovsky

terça-feira, setembro 25, 2007

Galeria Diferença







Galeria Diferença





segunda-feira, setembro 24, 2007

Charles Tomlinson

A LIÇÃO

Este ano, as cotovias
voam tão cedo e tão alto,
significando, dizes, que este Verão
vai ser quente e seco,
e quem sou eu
para discutir tal profecia?

Vinte anos aqui passados ainda não
me ensinaram a ler com precisão
nem os sinais do tempo nem os sinais do céu:
continuo com o olhar de um recém-chegado,
um olhar citadino:
contudo há ainda tempo
para aprender mais coisas
sobre a estação e o canto:
Verão após Verão.

Charles Tomlinson

escrito

é a hora em que os
rochedos atiram
para os céus
os rugidos
das suas entranhas

chuva

escrito

tenho uma ave pousada no meu ombro
estende as asas para as ervas do meu cabelo
resvala suavemente pelo meu braço
bela pura luminosa
segura nas suas garras a minha cintura
leva-me por sobre as falésias
pousa o meu corpo abandonado
num ilhéu frente à praia
alimenta-me de plancton como se fosse
um peixe
enfeita os meus pés de escamas
de sereias
presenteia-me com gotículas de nevoeiro

depois parte rasando as ondas

tenho um campo de malmequeres
no meu vestido de trapos
sequóias ensombram os meus campos
de musgo cobertos
os anos conservados em aneis lenhosos
as minhas raízes prendem-se nos
braços das leoas ronronantes
rejeito o calor dos pântanos desabitados

parto rasando as copas das árvores
que murmuram

mfs

domingo, setembro 23, 2007

escrito

pó de cometas em
cortinas de águas
nos peitos abertos das jovens
esperançadas
ilusões reconfortantes
embebidas em manás
infernais
pirilampos de luzes inocentes
coberturas de ambares
anónimos

nas paredes
as velas dos imortais
ausentes
nos soalhos os espelhos
cobertos de olhos de
esmeralda

as portas
de fechaduras de pedra
de molduras emplumadas
de paisagens abertas
nas rochas abismais

janelas de persianas abertas
o sol por companheiro
a lua sua vizinha
águas nos seus vidros
flores nelas espreitam

a casa
das jovens iludidas
expectantes
de coroas de nuvens
tranças
de ébanos românticos
mãos em postura de santas

mfs

escrito

agora
partícula universal
galáxia da cor de deus

agora
leva-me contigo

mfs

escrito

a rosa tinha no seu ventre uma rosa
uma rosa que sangrava ouro
que juntava céu e mar montanhas e lagos
que roubava as cores das romãs maduras
que luziam seus dentes de rubi transparente
que reflectiam sobre a rosa a bendição das fadas
que abriam suas asas sobre o perfume
segregado pelo ventre da rosa onde outra rosa
florescia

mfs

escrito

que o soar trovejante das mães em
gesticulantes revoltas
as mães de filhos perdidos entre
agulhas e outras misérias
mães que rasgaram a pele para
acolher a semente profética
que o seu ribombar perfure os
ouvidos encalhados na vastidão
da perfídia na profundidade
dos ódios e das ganâncias

que o seu dardejar fulmine os portadores
de ferozes tormentas
destrua os inumanos aproveitadores
da má sina alheia
que as dolorosas mães de roxo
vestidas e véus negros
abram o peito onde os corações
avermelham a luz
e mostrem ao mundo indiferente
as espadas que os cravam

que as vozes das mães em fúria
instalem no céu a revolta
despenhem sobre os os acomodados
os meteoros da ira
arranquem dos mapas corrompidos
as moradas dos assassinos
tracem nas estradas os caminhos
dos castigos merecidos
que se tornem mais uma vez as
redentoras do seu sangue

mfs

sábado, setembro 22, 2007

escrito

um adejar gratuito de seres emplumados
nas costas os arames cheios de véus
nos cabelos fios como raízes aéreas
no tronco a armadura barrroca e romana
nos pés asas de mercúrio mensageiro
nas cochas meias de rede sintética

mãos em agitadas confluências
espadas balançando à cintura
remoinhos rodeados de nuvens
em bando são mais terríficos
os anjinhos barrocos
sobrevoando estes mares
de algas castanhas flutuantes

contra o céu de fresco eclesial
nas cores ternas de seus rostos
desenrolam-se as guerras dos mártires
e dos cavalgantes guerreiros
enquanto ícaro se despenha
no mar borbulhante de algas
agora verdes agora esfarrapadas

mfs

sexta-feira, setembro 21, 2007

 

Jardim Zoológico
Singapura
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Alentejo

 
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Paul Celan

Fuga da Morte

leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer
bebemo-lo ao meio-dia e pela manhã bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos
cavamos um túmulo nos ares aí não ficamos apertados
Na casa vive um homem que brinca com serpentes
escreve
escreve ao anoitecer para a Alemanha os teus cabelos
de oiro Margarete
escreve e põe-se à porta da casa e as estrelas brilham
assobia e vêm os seus cães
assobia e saem os seus judeus manda abrir uma vala
na terra
ordena-nos agora toquem para começar a dança

Paul Celan

quinta-feira, setembro 20, 2007

quarta-feira, setembro 19, 2007

 
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escrito

não há respostas perfumadas às questões de vida e morte
não há perguntas certeiras à incomodidade de existir

os cangalheiros continuam prósperos nos seus comércios
os abutres ainda cumprem a sua higiénica função

do pequeno ao grande a transitoriedade é irreversível fatal
atravessando os tempos criados para a conjugação do destino

contudo algo nos move no sentido da imortalidade
algum plano nos desenhou na energia universal
para sempre

mfs

terça-feira, setembro 18, 2007

Sur les volcans du monde








Hoje no canal arte passaram um programa intitulado "Sur les volcans du monde".
Não vi desde o início, mas creio que o vulcão em questão era de uma ilha, talvez do Pacífico.
Havia um guia que levava as pessoas a passear sobre a lava solidificada, mas com gretas de lava em fogo. Depois assou carne que comeram deliciados. Foram ao mar ver a lava a cair na água e segundo me pareceu a erguer-se do mar, também.
As fotos foram tiradas da televisão.
Para quem quiser saber mais é ir a http://www.arte.tv/fr/70.html.

aquisição de peso

comprei hoje uma nuvem cor de rosa para pôr no meu quintal

Novo ano lunar

Em Singapura

Ski aquático

Em Singapura

menina

Raramente falo de actualidades, notícias de grande ou pequeno destaque, politiquices e quejandos.
Hoje não resisto a falar de Madeleine, a menina inglesa desaparecida. E para dizer apenas isto: quem quer que seja responsável pelo seu desaparecimento, com morte ou não,enquadra-se na categoria dos inclassificáveis, aqueles seres cujas acções os colocam numa zona negra e de tal maneira horrenda que não se consegue sequer imaginar.
E uma tristeza enorme, uma dor insuportável toma conta de nós. Quem dera que fosse possível fazer voltar atrás o tempo e emendar os erros em que as crianças são as vítimas.
 
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segunda-feira, setembro 17, 2007

escrito

não sei como se chama a forma semelhante
às chamas do fogo indomável nos cabelos
da mulher
de olhos fechados

é uma forma devoradora e conhecedora
das fraquezas
da mulher
de olhos fechados

temo ver desfazer-se em cinzas incolores
o coração da mulher
cujos olhos
fechados
gotejam
formas cristalinas

receio nunca ver os olhos abertos
da mulher
de pálpebras
fechadas
orladas de pestanas
e de águas

jamais saberei as cores que se escondem
atrás dessas cortinas imóveis

nunca saberei o nome das formas
como fogos fátuos
que imolam os cabelos brancos
da mulher
de olhos fechados

mfs

domingo, setembro 16, 2007

Dalai Lama


Lá perdi a ida ao Dalai Lama e à inauguração da exposição onde tenho duas gravuras. Tenho andado adoentada e decidi não sair da cabana. Acabo de ver um filme muito bom "Os Filhos do Homem" de Alfonso Cuarón. Passa-se no futuro, em 2027. Com esta mania de reparar nos pormenores, notei uma incongruência: o carro onde vão os fugitivos é baleado e o vidro da frente é quebrado. Na sequência o vidro aparece inteiro... Estou cansada de alterar o template. Precisa de uns retoques mas fica para depois. Tenho escrito umas coisitas mas ainda não estão acabadas. Coloquei o mapa-mundi aqui ao lado para se ver donde vêm os visitantes, mas não é fiável, no statcounter tenho muito mais visitas que no mapa. Mas continuam a ser poucas...ehehehe.

Carotte

Nesta súmula de vídeos aparece a minha gatinha.

Probably the Funniest Cat Video You'll Ever See

c

sábado, setembro 15, 2007

escrito

as palavras morrem lentamente
nos papeis amarrotados
nos blocos de apontamentos minúsculos
no cinza-negro dos quadros
das escolas

lentamente o fogo leva-lhes o fulgor
reveste-as de cinzas mortais contra o vento
que as arrebata
sacode
espalha

as palavras resistem
contudo

escrevem
eu sinto
eu penso
eu sou

lápis azuis interditam
as palavras
nas redes cibernáuticas
nos papeis de jornais
magazines
prospectos

as palavras contudo
resistem

implantam-se nos corações
rebeldes
nas almas investigadoras
nas mentes indestrutíveis
das mulheres
e dos homens
que as amam

ressurgem de pele nova
novas seduções
verdades esclarecedoras
esperanças concretizáveis

as palavras não se deixam
matar

mfs

ai ai

Não estou nada satisfeita com o template do blogue.
Vou ter que pedir ajuda.

Pavarotti


A Visão teve a excelente ideia de editar árias na voz de Pavarotti.
Entre elas encontra-se "Una furtiva lagrima" que me comove sempre.

Carnívora




Cá estão informações sobre a carnívora devoradora de insectos.
Clicar nas imagens para ver em maior.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Planta

 

Planta comedora de insectos, dizem eles.
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Canal Mezzo

 
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quinta-feira, setembro 13, 2007

escrito

com uma faca afiada corta-se a ternura em pedaços
na sopa dos pobres distribui-se pelos mais necessitados
o que sobrar guarda-se no frigorífico

quarta-feira, setembro 12, 2007

experiência

 
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experiências

cabeçalho

ainda não será este a ficar aqui muito tempo...
entretanto não escrevo nada não faço nada...
bem sempre vou colocando alguma coisa nos blogues.

terça-feira, setembro 11, 2007

Parque das Nações

 

É agradável ver belas montras
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Parque das Nações

 

Ontem andamos pelo Parque das Nações e compramos bilhetes para ir ver o Dalai Lama no domingo
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11 de setembro

Há seis anos...
Daí para cá já morreram muitos mais (entre os quais mais de três mil soldados americanos)no Iraque e noutros locais de conflito.

segunda-feira, setembro 10, 2007

plantas