espera a fortuna o canto da sereia
que impulsione a alavanca das ironias
o homem nada sabe de quiproquos
as taxas telefónicas alargam-se alegremente
nas contas mensais
nas casas abandonadas do médio termo
na meia idade
no meio do terreno insuflado
dos caracois acalorados
as elegantes pernas das jovens esperançosas
deixam ver o movimento dos músculos
bem treinados
ao alvorecer
o homem olha sem ver as sombras do seu
pouco cabelo
murmura inarticulações
finge onomatopeias
o homem sonha no largo da aldeia
o vento desafia a estabilidade dos ninhos
incompletos
que algum pássaro prestes a ser pai
iniciou num alto andar
de alguma árvore queixosa
dos alugueis por pagar
os camaleões reviram os olhos versáteis
ensaiam outras cores
atravessam o calor dos caminhos
amedrontados
o artista plástico imagina colagens
amálgamas de cenários
janelas mil na sua tela premonitória
planos vários
ambientes impossíveis
o artista apresenta a sua obra imaginada
a si mesmo
desgosta-se
rompe a unidade do suporte
deixa para outro dia
as imagens do homem que sonha
do camaleão medroso
dos pássaros-quase-pais
das sereias afogadas
das jovens de inuteis belezas musculares
o artista decide abdicar de taxas telefónicas
m.f.s.