terça-feira, novembro 25, 2008

escrito vadio

se calhar já editei isto aqui...
ora


sempre que as portas das velhas janelas rangem
empurradas pelos ares agitados das fendas no espaço
as minhas pálpebras deixam-se cair como estores que
se cerram aos guinchos exteriores

o meu vestido de algodão azul cerúleo
esmorece

as minhas chinelas de corda e pano amarelo
parecem mais apertadas

a revista sobre o sofá encosta-se no braço recoberto
a fotografia do escritor de rosto chupado como ramsés
na capa
pull-over alvo
camisa aos quadradinhos
braços cruzados

no meu mundo físico interior começam a ressoar
os sons estendidos na rua antiga
sons que se elevam atrevidos até aos meus ouvidos
cansados

largo o computador para comer morangos
arrefecidos em excesso pelo frigorífico
em 3.ª ou 4.ª mão do anterior locatário

penso que existir é um tal desperdício
uma inutilidade os brincos nas orelhas
as dores de costas
os calos nos dedos pequeninos dos pés largos e inchados

as janelas rangentes
resmunguices de velhas madeiras empenadas
como as minhas ancas

mfs

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