sexta-feira, agosto 17, 2007

escrito

morro de vez em quando
diante dos espelhos envelhecidos
a chávena de café vazia e perfumada

escrevinho nos tampos das mesas
das esplanadas nascidas
à beira-mar

escrevinho e risco
e apago
e leio
e releio

à beira-mar posso ouvir
os búzios gigantes
o vento que sibila longamente
perder-me entre as cintilações
da vasta toalha de vidros
do longo caminho de águas

enquanto morro
de vez em quando
solto os murmúrios
há muito guardados
na minha caixa de pandora
sei que irão contaminar as almas
sem alma
esventrar-lhes as escondidas
histórias
de vidas sem verões
roubar-lhes a doçura dos rostos-cor-de-rosa
desfazer-lhes as tranças
rasgar-lhes as brancas vestimentas

enquanto morro

m.f.s.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há muitas maneiras de morrer. Algumas até gostosas...

Uma das mais famosas, foi esta, si vera est fama ...

"0 prior do Crato, a pé, com a espada embotada dos golpes que vibrara, todo coberto de sangue, indicava-lhe um claro nas fileiras muçulmanas por onde podia ainda salvar-se, mas D. Sebastião não o atendia. Já não tinha a exaltação febril da coragem, mas a resolução fria de lavar com todo o seu sangue a sua culpa enorme. Já não podia fugir, mas podia comprar a vida com a perda da liberdade. Rendei-vos, senhor, dizia-lhe D. Francisco de Mascarenhas, e ele, meneava negativamente a cabeça. Só nos resta morrer, acudiu D. João de Portugal. Morrer, sim, respondeu o monarca com voz abafada, morrer, sim, mas devagar. Cristóvão de Távora, querendo salvá-lo à viva força, acenou a um mouro que viu próximo, para que viesse tomar-lhe a espada, mas D. Sebastião percebendo, disse bruscamente: Não! Não! A liberdade real só se há de perder com a vida. E metendo esporas ao cavalo com verdadeira fúria, sumiu-se nas fileiras muçulmanas vibrando para um e outro lado as mais formidáveis cutiladas. Debalde, os fidalgos tentaram segui-lo, mas D. Sebastião tomara-lhes tão grande avanço, que foi impossível alcançá-lo. Desapareceu, e da sua sorte nunca mais se soube. O povo não quis acreditar na sua morte, e formou-se em torno do seu nome, não só uma lenda, mas uma seita, que ficou conhecida por Sebastianistas."
(de Portugal - Dicionário histórico)

Anónimo disse...

"enquanto morro
de vez em quando
solto os murmúrios
há muito guardados
na minha caixa de pandora
sei que irão contaminar as almas
sem alma"
.........................

Caixa de Pandora é uma expressão utilizada para designar qualquer coisa que incita a curiosidade mas que é preferível não tocar (como quando se diz que "a curiosidade matou o gato"). Tem origem no mito grego da primeira mulher, Pandora, que por ordem dos deuses abriu um recipiente (há polémica quanto à natureza deste, talvez uma panela, um jarro, um vaso, ou uma caixa tal como um baú…) onde se encontravam todos os males que desde então se abateram sobre a humanidade, ficando apenas aquele que destruiria a esperança no fundo do recipiente. Existem algumas semelhanças com a história judaica-cristã de Adão e Eva em que a mulher é, também, responsável pela desgraça do gênero humano.
(da Wikipedia)

PS - Pois! A Mulher é que tem culpa de tudo... :))
Lembrei-me de uma cantiga antiga.
Por causa delas.
E só por causa delas.
Meu coração bateu tanto
Que partiu duas costelas...