entretanto posso dormir e
acordar com o barulho do martelo pneumático
na rua das trazeiras
sobrepor imagens aos pensamentos
supor-me um robot
bem educado e sentimental
abrilhantar as vestes metálicas
com a velha solarine
encomendar um chapéu de cobre polido
ensaiar uma voz de castrado farinelliano
poderei
imagino
recriar o despertar dos vermes mensageiros
de vidas por descobrir
encaminhar as vítimas de holocaustos negados
pelas veredas floridas dos martírios
conduzir os periclitantes amadores
de venturas terrestres
aos haustos das felicidades
endeusadas
poderei tudo
mas desse tudo quererei apenas
ser plenamente eu
na minha invisibilidade
no meu para sempre inacabado esboço
na minha condição de sombra
de mim mesma
hipótese embelezada
de planos sem viabilidade
poderei voltar a adormecer
e regressar ao limbo nublado
dos sonhos sem sobressaltos de
martelos pneumáticos
na rua das trazeiras
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
-
Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 19 horas
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