Cheguei de Singapura
No avião escrevinhei o que aqui vai. Não consigo melhor que isto.
Mas eu não sou poeta nem pretendo sê-lo.
o vaso de flores à minha janela
pressagia desencontros
nas praças públicas
cortam-se os cabelos às rainhas
nas madrugadas
antes do cadafalso
as mãos seguram
o ar que se esvai
dos pulmões enfraquecidos
os cabelos cortados são lançados
à água dos rios tranquilos
onde repousam todas as ofélias
de olhos virados para os céus
o vaso deixa cair as flores
sobre os corpos das rainhas
separadas dos seus súbditos
as antonietas
já sem cabeleiras nem pós brancos
nos rostos
tornados mármores de gelo
pelo ódio popular
carmins desfeitos na voragem
das bocas
esfomeadas
continuam os desencontros
nas praças públicas
os reis são destituidos das suas
varandas
arrancam-lhes as vestes de
brocados
fazem deles marionetas
nas cordas das forcas doiradas
corvos uivam
os bicos muito amarelos
as penas de negro azul
nas praças públicas desertas
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
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Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 23 horas
2 comentários:
É bom sentir através do que vê e sente.
Belo poema.
Boa viagem, nós por cá vamos estando:)
Isabel
Obrigada, Isabel.
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