fworld
Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008
Camaradas, companheiras, companheiros, minhas mais queridas leitoras e leitores para todo o género, frères humains, bloggers do petit monde portugais, em português de Portugal muito bom dia que a noite promete cair-nos em cima com mais 41 livros editados a juntar aos de ontem. Pelas contas do Pedro são estes os números da crise, qual crise? editorial, livreira eu sei lá, crise com cara de crise que vai de bem com a expressão do descontentamento que arrastais pelas ruas do meu país de poetas, escritores e editores agora contados por muito mais que as mães.
Impressionante o blog dos auto-denominados consultores editoriais Booktailors com blog activo de malta, desculpem, profissionais que oferecem serviço, dão dicas e vale a pena visitá-los para ter uma ideia do que «está a dar», em suomi diz-se zeitgeist. Pudera, 15 mil livros por ano já representam negócio e justificam estes tailors, agentes a sério ou na brincadeira também, de tudo e muito e haja saúde. Com que então, seus poltrões editores, andam com falsa melancolia a tiracolo? Quem diria, cambada de teatreiros com direito a generalização abusiva que hoje sou mãos largas.
O que aqui me traz a esta página branca, igual à da angústia do escritor que quer ser escritor, são ainda mais números mas dos que falam francês pois convém perceber as escalas. Nas costas deste envelope anotei que, por ano, a Allia recebe cerca de 1800 originais, forma de dizer, claro, contra os 7000 da Albin Michel, os 4000 da Grasset e os 5000 da Anne Carrière, a editora de Paulo Coelho. Desta quantidade de candidatos à palavra publicada, 90% não lerá o seu nome impresso senão na famosa lettre de reffuse junto com a obra incompreendida pelo editor à espera do talento, chamemos-lhe assim. Neste retrato convém não esquecer que Paulo Coelho fez parte da gorda percentagem de recusados até ao bom dia em que Anne Carrière resolveu arriscar com direito a jackpot de 5 milhões e tanto de Coelhos vendidos, neste momento com ainda mais milhões acumulados e abençoado brasileiro que safou Anne e o marido do vão de escada e da vida de pé descalço.
Ao que interessa, no ano de 2005, os franceses compraram 411,2 milhões de livros e aqui é que se percebe se vale a pena continuar a escrever em português ou se nos devemos fazer à estrada, valise en carton, pois claro. Estou a falar a sério? Claro que não, sobretudo porque em França também se ouve o mesmo choradinho com editores em falência como sempre mandaram as leis da vida, livrarias de rua, ‒ mas de que livrarias falamos? ‒ trocadas pela amazónica compra online e até os 10% do preço de venda que cabem ao autor são motivo de lamúria bla bla bla.
Muito gosta o género humano de se mostrar deprimido e pobre sobretudo quando se trata de contrariar a sempre poderosa realidade, crua e dura. A cultura francesa está, sob este ponto de vista, tão viva como a portuguesa. A língua é falada, escrita, vendida que nem pães quentes e a França, apesar de disfarçar, é ainda uma potência colonial sem vergonha na cara e claro, votou e de novo votaria Sarkozy que representa e muito bem o espírito actual dos enfants de sa patrie e cada país tem o que escolhe e merece. Está tudo dito? Ainda não acabei.
Onde há números e sobretudo quando se vem com a conversa dos números é certo e sabido que temos gato escondido com rabo de fora e a verdade é que em Portugal como em França há, de facto, uma crise instalada mas que nada tem a ver com miséria económica. Longe disso. A crise na edição de livros está na falta de talento, na fraca exigência dos leitores que engolem Coelho ou Angot como se fossem livros, quero dizer, aparentemente são livros, tudo indica que o são excepto para alguém que saiba ler. E é esta verdade seca e bruta que divide o mundo da leitura em dois. De um lado as «Sujet Angot» e ide googlar que não estou para links desta Christine da vida, espécie de caldeirada onde a autora se mistura com incesto numa prosa poética pejada de imagens cruas, ai que cruas, ai que poderosas as metáforas de Angot que incluem as árvores e pássaros e animais e gárgulas do costume, enjoativos clichés escritos e mais que escritos, descuidada escrita, pirosona mas acolhida de braços abertos por hordas de leitores, preparem-se agora, leitores imbecis que lêem uma escritora imbecil. Para quem é blogger e perdoem-me já os ofendidos que escusam de se dar ao trabalho de me escrever, Angot será uma Ana de Amsterdam com cara e corpo (e que corpo e que sorriso e que carinha laroca!) no mesmo estilo desassombrado, angustiado, lamentoso, irado, disparate atrás de disparate com o mesmo grau de imbecilidade vulgar da blogger amsterdânica que se eu fosse editora, ai editaria sem hesitar porque tudo indica que a imbecilidade vende e tem números expressivos a todas as escalas, com as devidas diferenças que me saltam aos olhos cada dia menos espantados com o que observam por dentro do ovo da serpente. O que leva um escritor imbecil que escreve imbecilidades a ser um caso de sucesso ao mesmo nível do genial e perfeito Jonathan Littell? A resposta de tão simples, aborrece, porque é, ai Deus meu, é da Crise que falo. Crise de inteligência e saber, crise de imaginação, crise de leitura, crise de saber escolher e separar o trigo do joio e chamar à imbecilidade joio é um favor que me faço para não perder a esperança que me traz a leitura de Les Bienveillantes onde, como diria o Pacheco Pereira, está lá tudo.
publicado por f às 12:30
manuel alegre / lusíada exilado
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Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 19 horas
1 comentário:
Pois.
As coisas são como são e não como deviam ser...
Mas quem é senhor da verdade?
Frisco
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