todas as vozes se estilhaçam como pedras atiradas sobre águas paradas
todos os corações têm compartimentos secretos onde chave alguma permite a entrada
levo comigo um fio de ariadne para não me perder no mar da minha paisagem
respirar os pólens dos campos sobrevoados por sons inaudíveis dos atarefados insectos
vislumbrar o salto da lebre
a toca do grilo cantante
o restolhar que a serpente desenha no trigo decepado
rebolar pelas leves encostas das colinas verdes
fechar os olhos à luminosidade da luz que vem do alto
deixar-se possuir pelo súbito silêncio do crepúsculo tingido das cores que dizem adeus
abraçar as árvores
carlos de oliveira / porta
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A porta que se fecha
inesperadamente na distância
e assusta o romancista
que descreve o seu quarto de criança
(é difícil dizer
se os velhos arquitectos...
Há 23 horas
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