sexta-feira, junho 13, 2008

escrito

sempre que as portas das velhas janelas rangem
empurradas pelos ares agitados das fendas no espaço
as minhas pálpebras deixam-se cair como estores que
se cerram aos guinchos exteriores

o meu vestido de algodão azul cerúleo
esmorece

as minhas chinelas de corda e pano amarelo
parecem mais apertadas

a revista sobre o sofá encosta-se no braço recoberto
a fotografia do escritor de rosto chupado como ramsés
na capa
pull-over alvo
camisa aos quadradinhos
braços cruzados

no meu mundo físico interior começam a ressoar
os sons estendidos na rua antiga
sons que se elevam atrevidos até aos meus ouvidos
cansados

largo o computador para comer morangos
arrefecidos em excesso pelo frigorífico
em 3.ª ou 4.ª mão do anterior locatário

penso que existir é um tal desperdício
uma inutilidade os brincos nas orelhas
as dores de costas
os calos nos dedos pequeninos dos pés largos e inchados

as janelas rangentes
resmunguices de velhas madeiras empenadas
como as minhas ancas

mfs

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