Troveja
Troveja
Ainda não
Chove
Talvez não chova
A mulher limpa
As mãos
Ao avental que
Ainda não comprou
Não havia aventais
na loja
a mulher quer um avental
com grandes bolsos
onde se amontoarão
os lenços de papel
os lápis e canetas
com que desenha
papeis de rebuçados
troveja
e
nunca
mais
chove
cães ladram
ao lado
o vizinho da frente tem dois
carrões
de vez em quando passa um idoso
na sua trotinete
esguio
cabelo às cinzas
direito
só se lhe vê
o perfil
não olha para os lados
a trovoada
está mais próxima
a ventoinha faz
um barulho
antipático
Há ruídos
Incessantes
Enervantes
Penso nas
Linhas
Belas coisas
Amo as linhas
Acalmam-me
Enquanto espero
Que a chuva
Desabe sobre
A relva
As flores
As árvores
Um santo com outro
Santo
Ao ombro
Um santo está pendurado
Numa cruz
Dizem que a culpa
É nossa
A mulher volta
A pensar onde
Arranjar um avental
Os aventais dos pintores
Sujam-se de tintas
A mulher gosta
De aventais
De pintores
chove
emanuel jorge botelho / claro/escuro
-
faço o quê com a amargura?
guardo-a no bolso,
ou ponho sobre ela o peso de um dia aziago?
talvez o mar me salve, ou me converta,
talvez a terra seja o ...
Há 9 horas
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