quinta-feira, julho 21, 2011

troveja

Troveja
Troveja
Ainda não
Chove
Talvez não chova

A mulher limpa
As mãos
Ao avental que
Ainda não comprou

Não havia aventais
na loja

a mulher quer um avental
com grandes bolsos
onde se amontoarão
os lenços de papel
os lápis e canetas
com que desenha
papeis de rebuçados

troveja
e
nunca
mais
chove

cães ladram
ao lado
o vizinho da frente tem dois
carrões

de vez em quando passa um idoso
na sua trotinete

esguio
cabelo às cinzas
direito
só se lhe vê
o perfil
não olha para os lados

a trovoada
está mais próxima

a ventoinha faz
um barulho
antipático

Há ruídos
Incessantes
Enervantes

Penso nas
Linhas
Belas coisas
Amo as linhas
Acalmam-me
Enquanto espero
Que a chuva
Desabe sobre
A relva
As flores
As árvores


Um santo com outro
Santo
Ao ombro

Um santo está pendurado

Numa cruz

Dizem que a culpa
É nossa

A mulher volta
A pensar onde
Arranjar um avental

Os aventais dos pintores
Sujam-se de tintas
A mulher gosta
De aventais
De pintores


chove

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