sábado, novembro 20, 2010

escrito

24-07-2005

sob os pés se despenham as horas
o tempo desfaz-se em nuvens de nada

sou transparente

não me ilumina a luz do dia
nem os relampejos das estrelas
nem a prata lunar me toca

sou invisível

uma pena levemente me toca

sou de mármore

a água penetra em minhas veias

sou um rio

as pupilas rasgam os negros nocturnos

sou asfalto

as asas que se fecham pra morrer
cobrem os corpos abandonados das silfides
os centauros murmuram cantos sagrados

sou um desenho

há sereias nas cascatas
esfinges nos penhascos
Orfeu toca a sua flauta

sou uma linha

m.f.s.
já sangravam os céus e eu caía
eu caía

abriram-se rochas de majestosa rudeza
e eu caía

as asas dos ventos aplanavam os campos
os horizontes fugiam

a paisagem contorcia-se
reflectida no meu corpo
que caía

as fontes gritavam em golfadas vermelhas
que sobre mim caíam

que sobre mim caíam

mfs

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