sábado, novembro 20, 2010

escrito

Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

escrito

cada manhã o vento varre a luz matinal engolindo
nas suas fauces o temor das crianças
o gorgulhar das águas tempestuosas
e sonha-se com os invernos de gelo e neve
chuvas furiosas sobre lagos escurecidos
lagartos verdes enregelados
andorinhas que voam para o calor
flores por nascer frutos ainda remotos

arranha-se uma qualquer melodia num piano
envelhecido e renitente melancólico quanto baste
os dedos hesitam sobre o teclado desistem
coçam a cabeça abandonam os sons suspensos
na atmosfera ainda quente da noite passada

o telefone parece retinir impernitentemente
abafando a tosse do ancião à porta da cozinha
os gatos estão milagrosamente quietos
cheira a café

mfs

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