levantei-me cedo
não tinha pão
fui tomar o pequeno almoço à rua garrett
não gostei da torrada
depois vagueei pelos arredores
fui ao largo da biblioteca de boas memórias
fotografei a minha antiga escola das belas artes
e os andaimes da rua ivens
a zona está povoada deles
quando era estudante e morava na sidónio pais
apanhava o eléctrico 24 e descia no "terminal" do carmo
aos anos...
uma manhã desci a calçada do sacramento e comecei a subir a garrett
para depois virar para a ivens
descendo vinha um homem
e assobiava
um assobio lindíssimo
não havia quase ninguém
o som parecia repercutir-se nas partículas da atmosfera
nunca mais me esqueci
uma coisa banal e tão bela
samuel beckett / bem bem existe um país
-
bem bem existe um país
em que o esquecimento em que pesa o esquecimento
lentamente nos mundos inominados
aí a cabeça aquietamo-la a cabeça está calada
...
Há 1 dia
4 comentários:
Tomei muitas vezes o pequeno almoço na «Leitaria Garrett» no meio da malta da ESBAL, onde tinha amigos.
Mas o meu poiso regular era mais acima, onde jaz o Pessoa. Nunca percebi por que o sentaram ali e não a andar no Rossio ou no Terreiro do Paço.
comi muitas sandwhiches acompanhadas de galões na leitaria garrett.
desenhei lá e até fiz pelo menos um linóleo com base num desses desenhos.
E a gravura que tal ficou?
Houve um tempo em que deu uma febre de gravura em Lisboa.
Ainda me lembro de uma espécie de workshop em pleno Principe Real onde não sei quem iniciava «os transeuntes voluntários».Uma colega minha e eu, que passavamos e tinhamos 15 anos, fomos logo meter o nariz e foi aí que vimos pela primeira vez o linóleo e como se «trabalhava». Claro que passámos várias tardes de sábado no Jardim e seguiamos para casa da Luiza a inventar prensas e a sujar tudo até que a mãe dela perdia a paciência e nos punha na rua - e nós dobravamos a esquina e asilavamos na Brasileira a projetar panfletos e livros terríveis!
Era preciso tão pouco para sermos felizes!
que lindo!
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