sexta-feira, junho 18, 2010

José Saramago

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou ventos de cabelos que sacode.
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontua de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros.

José Saramago

2 comentários:

Alfredo Rangel disse...

Perde o mundo, Saramago, e se imbeciliza. Troca pensadores, humanistas, gente, por "celebridades" com cérebro de fruta-pão e bolsos recheados de dólares.
Pena!

Rangel

samartaime disse...

Não discuto o autor nem os atavios.
Mas tenho pena que tivessemos perdido um exemplo de coragem e cidadania leal, raros na sociedade portuguesa - sempre ambígua, de pé no estribo.

É tão fácil os velhos apagarem-se, é tão mais fácil e cómodo o silêncio.