sábado, maio 01, 2010

Sylvia Plath


Papoilas em julho

Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?

Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada
queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da
boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvair-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de
vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.



Sylvia Plath
Pela Água
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães

1 comentário:

samartaime disse...

E depois, um dia, o fogão.