sábado, março 15, 2008

Inês Lourenço

SIRENE

Bom é ter poucos amigos
poetas, para não ter de
trair a lisura do afecto
ou do texto. Mesmo esses poucos
chegam a nenhuns, se não
conseguimos elogiar epifanias
recessas, queixas piedosas ou
banalidades inócuas. Um amável
neófito muito badalado, ou um sénior
de vários prémios
literários, esperam deliciar-nos
com o verbo no cada vez mais
exíguo palco do poema
impresso. Assim ficamos sós
diante da própria e feroz espera
da negada surpresa. Como quem
adormece na ambulância
apesar da sirene.

Inês Lourenço
Disfunção lírica
& etc

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigada.
I. L.