terça-feira, junho 28, 2011

quinta-feira, junho 16, 2011

sábado, junho 11, 2011

Maria do Sameiro Barroso

VELADO NOME

Não sei como se inicia uma ou outra lua
Na lucidez bizarra à beira
dos abismos, ravinas,
precípicios.

Vivendo na coreografia perfeita das asas
e dos nomes.
No peito de opúncias.
Flores.

No cimo de uma paisagem desolada.
Sobre campânulas
que rodam na face
incendiada.

Em frente às labaredas. Da febre que
fere e estilhaça.
Percorrendo,
nos olhos das estrelas,

as gelosias corridas, as fendas de luz.
Um só vislumbre
e a chuva aproxima-se
revolvendo
a essência mole, o molde de gesso.
Abrindo a amplitude
imensa
ao velado nome
que canta o peso, a volúpia, a leveza
extrema.

O corpo destruído.

No âmago da dália

( Jardins Imperfeitos)

Maria do Sameiro Barroso
Millenium
77 Vozes de Poetas Portugueses
Universitária Editora

Rosa Alice Branco

11. PINTURA

1. O CHEIRO DO ORVALHO

As palavras chamam-me para dentro do poema
e arrastam-te comigo. Tanto vento
que se levantou de repente a esta hora.
Dormias?
Redemoinho entre as letras como um catavento
e sei confusamente que não estamos aqui
como sei que nunca viste uma árvore
ou um telhado cheio de pássaros
para podermos trocar a nossa ignorância
como um pacto de amor
que nos acorda quando nasce o dia.
Soletramos então a palavra «árvore»
que nasce no vidro da janela
mas já estamos longe
no cimo do papel
como duas silhuetas
absorvidas a colher o cheiro da terra.

E contudo as palavras mexem-se,
ouço as vozes atravessarem a lareira
o ressoar das letras espaçadas
as cores quentes à volta do fogo.
Não, não dormias a essa hora.
Eras tu que me arrastavas para dentro do poema
quando o vento dançava nos meus passos.
E eu pensava nas cores das faias
e como as folhas se juntam lá em cima
ou então pensava no grito do telhado
cheio de pássaros no papel
para te dar tudo
o que nunca vimos e ouvimos
na simplicidade
do orvalho da manhã.

Rosa Alice Branco
soletrar o dia
obra poética
edições quasi

rede

arames

pedalar

escrevinhar

elegantes aranhas
nas suas mágicas armadilhas

usam as gotas das chuvas
para assustar os insectos

que mesmo assim

se lhes oferecem
submissos

mfs