POST SCRIPTUM
Não posso escrever
como escrevia
antigamente
os meus temas
gastaram-se
como o azeite das lâmpadas
(e só as virgens-formigas
desposam o Noivo)
tudo foi escrito por mim
e tudo está por escrever
mas fora dos poemas não há poeta
o autor em carne e osso foi-se
o autógrafo também
das reacções químicas acabadas
ficou opó da ampulheta
não vivo para escrever
escrever é aliás viver
como ter um amor
ou uma dor de dentes
que nos podem inspirar
ou não
os cadernos pautados do meu diário
afogam-se no rio como os ratos
encantados pelo flautista
a poesia é luz e fumo
com os louros da minha coroa
tempero o guisado
que como sozinha
Fábio fez das cinzas
da sua dama
uma ampulheta
e deste feito um soneto
artefacto feito de dor
como a ampulheta
Adília Lopes
COLÓQUIO
Letras
número 125/126 Julho-Dezembro 1992
rui caeiro / país natal
-
País de cegos, onde não falta nem a mansidão nem a quietude – nem a
resignação. Onde os zarolhos que há querem ser reis – a fim de, segundo
dizem, da...
Há 1 dia
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