sábado, agosto 28, 2010

hoje



bem, nada de novo no meu galinheiro
hoje não disse uma palavra a ninguém
excepto àquele que me acompanha sempre

já não tenho a gata a quem miar e não vi gaivotas
enviei um mail ao meu amor antigo

e mais nada
ah
fotos
poucas
digitalizações
algumas

e pronto

ontem fui ao alfarrabista
adquiri uns catálogos antigos
má imagem
as imagens quase todas a preto e branco
achei interessante comparar com os catálogos coloridos de agora

amanhã talvez vá ao zoo
depende da disposição

Newborn otter cubs - Wildlife on One - BBC

quinta-feira, agosto 26, 2010

bairro

escrito

inventário


tinha uma carteira de vidro

um lençol de coisas belas


um manancial de fealdades

um índice das tristezas armazenadas


uns sapatos de cristal como

os de uma determinada gata friorenta


um vestido em sublimes farrapos

um colar de cabeças mumificadas


um relógio às avessas


possuía o que nunca se possui

e um laranjal de flores olorosas


uns anéis em poeira estelar


alguns sorrisos sinceros

e outros de circunstância


numa caixa sempre fechada

enclausurou Pandora


mfs

escrito

às tantas a madrugada estilhaçou
a atmosfera morna
sibilante
povoada de animais que se
espreguiçam
ao saírem das neblinas
nocturnas

começaram os fumos dos escapes
a roçar as auto-estradas
ainda húmidas

os motoristas ansiavam pela pausa
do café
à beira das vias para onde
para sempre
para agora
despertas a custo

os odores da noite desvanecem-se
em acres sensações

ninguém sorri

alguns rosnam

as crianças dormitam nos bancos
secundários

as mochilas balançam nas curvas
das estradas

nunca mais o caminho
termina

nunca mais deixa de ser infinita
a via com horizonte
carregado do não se sabe
nunca
aonde nos levam estas veredas

mfs

quarta-feira, agosto 25, 2010

Carta a um amigo muito amado

Meu amigo que muito amei
Meu amigo que muito estimo

Um espesso muro do tempo nos separou

As memórias que regressam com o reencontro
A surpresa de descobrir que algo ficou
Que os anos não apagam tudo

A ternura que renasce
Quando o coração parece adormecido e cansado

A suave alegria de sentir que muitos oceanos
Não impedem que as nossas mãos se toquem

Meu amigo que muito amo

ontem

terça-feira, agosto 24, 2010

escrito

Vou correr sobre o meu caminho de brasas
Agarrarei as asas dos corvos do meu céu

Deslizarei pelas encostas relvadas dos meus sonhos
Encontrar-me-ei no sopé das fragas marítimas

As cores crepusculares enrolar-se-ão nas penugens flutuantes
Verei em 3D o gargalhar das gárgulas

As cortinas de nuvens amarelas vencerão os meus olhos
Nos meus pés o sangue desenhará papoilas

Deixarei as paisagens circundantes
Pelas superfícies marcianas a preto e branco

mfs

pequenas coisas

ainda em Timor
o liceu organizou uma sessão de cinema
uma colega e eu tínhamos de estar à entrada para receber as pessoas
uma seca
lá o pôr-do-sol acontece rapidamente
mas naquele instante a atmosfera ficou lilás
parecia um sonho
quase se podia agarrar a cor

sábado, agosto 21, 2010

café

quando vivia em Timor nos primeiros tempos estava em casa do meu irmão
havia um cozinheiro timorense que era uma preciosidade
além dos óptimos cozinhados fazia um café maravilhoso
quando regressava das aulas e entrava em casa esta estava toda perfumada do café
só por si o cheiro era uma delícia
é daquelas pequenas coisas que não se esquecem

sábado, agosto 14, 2010

gaivotas




desta vez as gaivotas aproximaram-se mais das minhas janelas
imitei-lhes os grasnidos
pareciam intrigadas
quem se aperceber destas minhas incursões nas linguagens animais poderá fazer juízos nada favoráveis
ora...
je m´em fiche

sexta-feira, agosto 13, 2010

hoje

levantei-me cedo
não tinha pão
fui tomar o pequeno almoço à rua garrett
não gostei da torrada

depois vagueei pelos arredores
fui ao largo da biblioteca de boas memórias
fotografei a minha antiga escola das belas artes
e os andaimes da rua ivens
a zona está povoada deles

quando era estudante e morava na sidónio pais
apanhava o eléctrico 24 e descia no "terminal" do carmo
aos anos...

uma manhã desci a calçada do sacramento e comecei a subir a garrett
para depois virar para a ivens

descendo vinha um homem
e assobiava
um assobio lindíssimo
não havia quase ninguém
o som parecia repercutir-se nas partículas da atmosfera

nunca mais me esqueci
uma coisa banal e tão bela