nas tardes que espreitam as claraboias
as nuvens são carícias nos olhos dos invisuais
sobre o soalho desenha-se a sombra de grelha de madeira antiga
que segura os vidros até o próximo inverno
as escadas precipitam-se refeitas das cicatrizes
dos anos que passaram
o corrimão é inadequado
a luz apaga-se antes de se chegar ao último andar
à frente de cada porta um tapete
todos desiguais e feios
na rua há pinturas nas paredes
pombos nas goteiras
e junto aos nossos pés
indiferentes de patas rosas
os habitantes carregam grandes somas de anos nas costas abauladas
as mulheres idosas ripam os cabelos pintados
os talhantes vêm cá para fora botar conversa e olhar de soslaio as raparigas que passam
roupas negras e curtas
penteados estranhos de cabelos às cores
mochilas
os empregados dos restaurantes arrumam cadeiras no exíguo espaço em frente
abrem os guarda-sois-e-chuvas
lançam gracinhas e graçolas para os polidores de calçadas
com ar de chulos novos-ricos
farto-me de televisão
de internet
de gelatina e queijinhos frescos