agonizo nesta nuvem de sois moribundos
a leste de nenhum paraÃso
roendo as cordas da traição mortÃfera
meu coração duplo de mim
acordam as vozes os suspiros
relutantes das vÃtimas enclausuradas
nos braços dos carrascos enamorados
meu coração de arma ao peito
seguem-se os passos relutantes
dos candidatos à morte prematura
nas telas de vidro fosco
meu coração que se esbate
corro no horizonte dos felinos
salto na espuma das ondas amortecidas
visto a pele do lobo domesticado
m.f.s.
no meio espaço entre o sim e o não
violentos confrontos fazem cair o céu sobre as cidades
roubam rochas à lua que fica mais leve
a nos abandona
rapinam-se as cores com que os cegos
pintam as formas dos seus androides do costume
a turbulência das rosas em explosão
espalha perfumes como uma lata de spray
nos labirintos formigueiros
as alegres ratazanas dos charcos agoirentos
desenham mais um anel nas caudas peladas e flexÃveis
cheiram afanosamente os detritos
põem mais um fulgor nos brilhantes olhos
as tranças das meninas violetas desfazem-se
em rios de auroras boreais
m.f.s.
a sombra
a sombra
o lusco-fusco
a silhueta
as planuras
as planuras
secas
amarelas
as linhas
os rasgões
a plenitude
o vazio
o branco
o grito
o gesto
o gesto
o eu
o tu
o nós
o vós
o eles
o eu
a luz
o túnel
a luz
m.f.s.
preciso de roma
de atenas
de tebas
os antigos deuses
abandoram-nos
levaram com eles
as velhas magias
ficámos órfãos do
maravilhoso
dos rituais misteriosos
das velhas crueldades
preciso de jerusalém
do fogoso david de
cabelos vermelhos
dançarino e tocador
guerreiro e
arranca-corações
amigo e traidor
faz-me falta gudea
e a sua túnica portadora
de história
hamurabi e o seu
olho por olho
assim como fizeres
assim terás
daniel ainda dialoga
com os leões
ainda se senta à entrada
da cidade
ainda nubla o futuro de
negras tintas
números estranhos
salvações impossÃveis
penso em caim
torturado pelo ciúme
ganancioso na sua dor
de filho na margem
os deuses voltarão
de novo armados
de novo guerreiros
carrascos
das suas crias
m.f.s.
manuel alegre / lusíada exilado
-
Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.
...
Há 20 horas
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