sexta-feira, outubro 21, 2011

isso

no labirinto das palavras
cresceu uma árvore sem folhas

+
dançam
desengonçam-se
fruem
o corpo exalta-se

dançam
riem
bebem
brilham
suam

o corpo não se cansa

+
os barcos vestem-se de preto baço
encostam-se ao cimento dos cais estrangeiros
usam bandeiras de papel
bolsam águas
dejectos
ironias

os barcos perseguem
o holandês
invejam-lhe as velas enfunadas
o deslizar rápido
na escuridão das neblinas

*

o oriental
chora
os destroços das suas posses
apodrecem nas águas invasoras

já não haverá papagaios de papel

na praia cor de ferrugem

+
numa provecta máquina de escrever
o poeta regride no seu longo tempo
passado

arranca à memória os gestos com que teclava
apaga erros com xxx por cima
pára
e ouve a chuva
a ventoinha
o ruído apagado da televisão

rasga a folha

vai à varanda onde
pacientemente a sua
nuvem transportadora o espera

sobe os almofadados degraus
acaricia as minúsculas gotas
das costas onde se reclina

e parte

não creio que regresse

ffg

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