no labirinto das palavras
cresceu uma árvore sem folhas
+
dançam
desengonçam-se
fruem
o corpo exalta-se
dançam
riem
bebem
brilham
suam
o corpo não se cansa
+
os barcos vestem-se de preto baço
encostam-se ao cimento dos cais estrangeiros
usam bandeiras de papel
bolsam águas
dejectos
ironias
os barcos perseguem
o holandês
invejam-lhe as velas enfunadas
o deslizar rápido
na escuridão das neblinas
*
o oriental
chora
os destroços das suas posses
apodrecem nas águas invasoras
já não haverá papagaios de papel
na praia cor de ferrugem
+
numa provecta máquina de escrever
o poeta regride no seu longo tempo
passado
arranca à memória os gestos com que teclava
apaga erros com xxx por cima
pára
e ouve a chuva
a ventoinha
o ruído apagado da televisão
rasga a folha
vai à varanda onde
pacientemente a sua
nuvem transportadora o espera
sobe os almofadados degraus
acaricia as minúsculas gotas
das costas onde se reclina
e parte
não creio que regresse
ffg