sábado, setembro 24, 2011

quarta-feira, setembro 14, 2011

sábado, setembro 10, 2011

Aben Zaidum

"A QUE ERAS EM ZAHRÁ..."


A que eras em Zahrá: saudade de lembrar-te,
num límpido horizonte e rebrilhando a terra,

e quando a brisa à tarde tanto enlanguescia,
como se em dó de mim, num langor de piedade,

e sorria o jardim em prateadas águas
qual se dos véus houveras desnudado os seios!

Um dia igual aos de prazer que me fugiram:
noites furtando o gozo à sorte que dormia,

enganado com flores me seduzindo o olhar,
delas correndo o orvalho até que se curvavam,

chorando a minha insónia as hastes tão exaustas,
que as lágrimas fugiam num brilhar perdido.

Uma rosa fulgia no jardim esbraseado,
e o meio-dia cegava ainda mais, por ela.

Perfumado um nenúfar deslizou num amplexo,
qual quem tonto de sono a madrugada acorda.

Tudo criava em mim uma saudade imensa
que um seio ainda oprimido mal sabia ter.

Se a morte a nossa união houvera consumado:
oh feliz entre os dias tão glorioso dia!

Que Deus conceda a paz ao peito que a saudade
um dia encheu mas não levou nas suas asas!

Se a brisa então soprando, a ti me transportara,
um jovem te trouxera gasto pela vida.

Nem do que tenho o bem de maior preço, amor
- se de amantes se diz que podem possuir -,

seria justa paga desse puro ardor
que nos guiava aos recessos do jardim mais íntimo.

Louvado seja Deus por tempo que tivemos,
de que te consolaste, e de que fiel eu vivo.

Aben Zaidum
Tradução de Jorge de Sena

António Borges Coelho

Deambulas pela noite
como cão ao abandono
enquanto num alto andar
um homem cercado
quer dormir e ficar acordado

Nem só os cães esgravatam
homens procuram batatas

Vestida de noite a morte passeia
entre automóveis vazios
as órbitas espreitam nas janelas apagadas
e vem com passos de ladrão
ou sátiro

António Borges Coelho
Nocturno
Ao Rés da Terra
Caminho
Da Poesia
2002
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