"A QUE ERAS EM ZAHRÁ..."
A que eras em Zahrá: saudade de lembrar-te,
num límpido horizonte e rebrilhando a terra,
e quando a brisa à tarde tanto enlanguescia,
como se em dó de mim, num langor de piedade,
e sorria o jardim em prateadas águas
qual se dos véus houveras desnudado os seios!
Um dia igual aos de prazer que me fugiram:
noites furtando o gozo à sorte que dormia,
enganado com flores me seduzindo o olhar,
delas correndo o orvalho até que se curvavam,
chorando a minha insónia as hastes tão exaustas,
que as lágrimas fugiam num brilhar perdido.
Uma rosa fulgia no jardim esbraseado,
e o meio-dia cegava ainda mais, por ela.
Perfumado um nenúfar deslizou num amplexo,
qual quem tonto de sono a madrugada acorda.
Tudo criava em mim uma saudade imensa
que um seio ainda oprimido mal sabia ter.
Se a morte a nossa união houvera consumado:
oh feliz entre os dias tão glorioso dia!
Que Deus conceda a paz ao peito que a saudade
um dia encheu mas não levou nas suas asas!
Se a brisa então soprando, a ti me transportara,
um jovem te trouxera gasto pela vida.
Nem do que tenho o bem de maior preço, amor
- se de amantes se diz que podem possuir -,
seria justa paga desse puro ardor
que nos guiava aos recessos do jardim mais íntimo.
Louvado seja Deus por tempo que tivemos,
de que te consolaste, e de que fiel eu vivo.
Aben Zaidum
Tradução de Jorge de Sena